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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Como formar um bacharel em Ciência da Computação?


       


     
        Criaria um curso de quatro anos. Esse curso seria dividido em dois ciclos sucessivos: um ciclo essencial e um ciclo específico. O primeiro ciclo teria a duração de três anos e o segundo de um ano. Ao término do ciclo essencial, o aluno já receberia um título de nível superior, como de Tecnólogo em Ciência da Computação. Seguir adiante para obter o título de Bacharel em Ciência da Computação seria opção do aluno.
       
           As disciplinas do ciclo essencial forneceriam a base do conhecimento de um cientista da computação. Já aquelas do ciclo específico se voltariam para mais especialmente atender à vocação individual do aluno. Ambos ciclos estariam alicerçados por uma visão sistêmica, enfatizando interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e educação continuada. Seria bem natural inferir-se que as disciplinas do primeiro ciclo seriam menos afetadas pela evolução científica e tecnológica da sociedade, enquanto que aquelas do ciclo seguinte estariam mais reféns dessa evolução, que transforma a sociedade em um ritmo alucinante.

             Extrapolando o viés de proposta e partindo-se para uma implantação do modelo, há quatro entidades que me parecem candentes de serem consideradas: professor, aluno, escola e sociedade. Todos são igualmente  bem complexos. O professor do primeiro ciclo tem como marca de seu perfil a preocupação de garantir que a base do conhecimento seja a mais perfeitamente aprendida. Essa base impõe que o aluno esteja pronto não apenas para reproduzir conhecimento, mas sim que seja capaz de pensar e criticar o que se aprende. Conhecer, Compreender, Aplicar, Analisar, Avaliar e Criar  são os níveis de desempenho a serem atingidos.
           
            Com relação ao professor do segundo ciclo, entendo que a dinâmica instalada faz com que sua preocupação esteja em estar atento para escutar o que a sociedade precisa e deseja. É possível inclusive imaginar que as aulas nos moldes tradicionais devessem ceder espaço para atividades extraclasse realizadas em empresas convergentes para a área de interesse do aluno, e que as apresentações de conteúdo fossem ministradas por profissionais com Notório Saber.

            O aluno já foi tratado como entidade passiva. Hoje assume um papel bem mais protagonista. Esse novo cenário garante-lhe de forma justa direitos de decisão, mas traz-lhe também grandes responsabilidades. É bem possível que esse amadurecimento que lhe é imputado esteja sendo prejudicado por uma percepção ainda infantilizada por parte da própria escola, a qual agoniza para sobreviver e se vê pressionada pela sociedade para fornecer resultados. A adultização do processo ensino-aprendizagem é imprescindível para que o sistema integrado evolua.

           Dentre as quatro entidades, a escola e a sociedade são aquelas que mais devem parecer uma só no processo sistêmico de ensino-aprendizagem, tamanha a interdependência entre elas. Deve ser difícil estabelecer fronteiras entre elas, fazendo com que os papéis, obrigações e responsabilidades se confundam no processo ensino-aprendizagem. Isso vai ter uma influência decisiva no sucesso a ser alcançado extamente no ciclo específico, onde se espera que os professores sejam profissonais de Notório Saber, criando um ambiente mais articulado, diversificado, inovador, interdisciplinar e, muitas das vezes, transdisciplinar.

         Parece fácil implantar esse modelo, mas não é. Esse modelo não é inédito, tampouco original. Essa ideia já está inclusive apresentada, detalhada e defendida em muitos dos programas pedagógicos de escolas que nasceram neste século. Quais são as dificuldades então? Três das mais abrangentes e visíveis são: os recursos públicos destinados às escolas federais e estaduais têm progressivamente minguado; os programas  de financiamento de alunos de graduação em escolas privadas têm sido reduzidos; e as escolas privadas têm tido uma redução sistemática no número de alunos matriculados.

          E qual a solução? O Estado brasileiro precisa avocar para si a responsabilidade de ser o protagonista principal dessa transformação que é inevitável. O Estado deve convocar essas quatro entidades (i.e., escola, aluno, professor e sociedade) e dialogar para estabelecer objetivos, indicadores e metas claras. Não se pode ficar parado diante de algo que é dinâmico, que muda rapidamente, que é, em última análise, completamente líquido, conforme discorrido por Zygmunt Bauman. Ou a transformação ocorre de maneira endógena e, portanto, planejada, ou ocorre de maneira exógena e, portanto, traumática e, desta forma, mais alinhando-se ao hipotético Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. O imobilismo leva ao esgotamento do modelo em vigência, pois a obsolescência não é mais um acidente, mas sim inteiramente previsível e até planejada.

Prof. Carlo Kleber da Silva Rodrigues. 

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