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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 18 de agosto de 2012

Formação continuada do docente do Ensino Superior e EAD


A educação continuada do docente deve ser considerada como uma questão primordial uma vez que a sociedade contemporânea é muito mais exigente, não só na forma como é conduzida a educação, mas também pela qualidade do ensino, e aqui se entenda também por informações atualizadas, pois são requisitos procurados, nos profissionais, pelo mercado de trabalho cada vez mais globalizado.

O avanço tecnológico que vem ocorrendo nas últimas décadas, particularmente, a partir da expansão do uso da Internet no Brasil, com banda larga, abriu novos horizontes e possibilidades de aplicação prática de ensino no mundo moderno, nas diversas modalidades do aprendizado, abrangendo profissionais dos diversos setores.

Não alheio a essa avalanche tecnológica, o ambiente educacional vem acompanhando esse processo de desenvolvimento de aplicação de novas tecnologias, onde o ensino moderno utiliza-se de práticas e usabilidade de novos recursos virtuais, materiais didáticos, reestruturação das formas de ensinar, capacitação continuada, não só dos docentes, mas de todos os profissionais da educação, além de observar questões relativamente novas como a inclusão digital da população brasileira e, em particular, dos discentes de nível superior.

Assim, novos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) estão surgindo juntamente com a ampliação das possibilidades de comunicação entre pessoas, por meio do uso de Tecnologias da Informação e Comunicações (TIC), tornando-se instrumentos enriquecedores e potencializadores da educação na construção do conhecimento.

Uma modalidade de ensino que está em crescente evidência nos últimos anos é a Educação a Distância (EAD) pela sua flexibilidade no tempo de aprendizado dos alunos, portabilidade de acesso aos ambientes virtuais e de custo mais acessível, e que vem sendo amplamente empregada como forma de busca do aprimoramento profissional, fruto dessas facilidades que ela proporciona, dentre outras.

A EAD tem se mostrado uma modalidade que merece atenção para suprir demandas que em outras circunstâncias seriam inviáveis na formação continuada de professores do ensino superior, onde suas peculiaridades alinham-se com interesses deste público, frente às dificuldades do cotidiano.

O aprimoramento da formação de docentes resulta num ganho substancial ao processo de aprendizagem, pois é benéfico não só para o professor, que se sentirá motivado e capaz de apresentar novos desafios em sala, como também para os próprios discentes que terão uma formação acadêmica de maior qualidade, para fazer frente ao competitivo mercado de trabalho.

Em se tratando de docência de nível superior, por ter a responsabilidade direta na formação de profissionais, é fundamental para o professor a atualização de seus conhecimentos e manter-se constantemente adaptado às constantes mudanças dos recursos tecnológicos, para promover uma interação eficiente em ambientes educacionais, e intermediar a construção de novos saberes de maneira inovadora.

A formação de docentes de nível superior deve estar colimada com a função educacional e social das IES, onde são preparados os profissionais dos diversos segmentos para acolher aos anseios da sociedade como um todo, dentro de uma ética e alinhado com a evolução tecnológica que inunda o cotidiano das pessoas.

Chauí [2] e Barreto [1] observam que a formação de professores tende a dar um enfoque mais generalista, que denominou de “universidade operacional”, que será aplicado aos diversos cursos universitários, cabendo aos recém-formados buscarem sua complementação profissional orientada à capacitação de serviços para atenderem ao mercado ou mesmo manterem sua “empregabilidade”, quando afirma:

A docência é entendida como transmissão rápida de conhecimentos, consignados em manuais de fácil leitura para os estudantes, de preferência, ricos em ilustrações e com duplicata em CDs. [...] A docência é pensada como habilitação rápida para graduados, que precisam entrar rapidamente no mercado de trabalho do qual serão expulsos em poucos anos, pois tornam-se, em pouco tempo, jovens obsoletos e descartáveis; ou como correia de transmissão entre pesquisadores e treino para novos pesquisadores. Transmissão e adestramento. Desapareceu, portanto, a marca essencial da docência: a formação [2].

Dentro das políticas educacionais destaca-se a intenção de utilização da EAD como recurso a ser explorado na formação e capacitação continuada de professores em todos os níveis, onde a Lei de Diretrizes e Base (LDB) [3] considera a educação a distância como um importante instrumento de formação e capacitação de professores em serviço.

Zagury [4] apresentou um estudo que teve como objetivo colher dados sobre o pensamento do professor brasileiro que atua em sala de aula, onde foi apontado o “manter-se atualizado” e “deficiência na formação e/ou treinamento continuado” como um dos seis grandes problemas (dificuldades) que enfrentavam. Os gráficos 1 e 2 (adaptados) a seguir retratam o resultado de sua pesquisa quanto a esses aspectos.



Gráfico 1 – Manter-se atualizado (Zagury, 2009)




Gráfico 2 – Deficiência na formação e/ou treinamento continuado (Zagury, 2009)

Como pode-se observar pela análise dos gráficos acima, conclui-se que a grande maioria dos docentes ressentem-se pela falta de atualização de seus conhecimentos e necessidade de treinamentos continuados, ou seja, educação continuada, e que a causa dessas deficiências são provocadas basicamente pela falta de tempo e disponibilidade financeira (resultados expressivos da pesquisa). Neste sentido, a EAD se propõe a minimizar essas questões e propiciar de maneira mais democrática o acesso à formação continuada, reduzindo as desigualdades.

Ademais, a sociedade moderna tem se caracterizado pela grande interação interpessoal, pelos novos meios de comunicação, como dispositivos móveis conectados pela Internet, onde se acessam uma gama variada de fontes e materiais de consulta de forma tempestiva. Com isto, necessita-se de docentes que sejam investidos de conhecimentos atualizados e que possuam habilidades no trato dessas tecnologias, para que sejam capazes de orientarem seus discentes, na organização de suas ideias no processo de reconstrução sólida do saber, revestida de credibilidade pela “boa informação” para o seu desempenho acadêmico.

A formação do docente de nível superior no Brasil, na maioria das vezes, reduz-se aos conhecimentos adquiridos por ocasião de sua formação acadêmica e pós-graduações específicas, não sendo aprimorada, ao longo da carreira, para absorver e compreender novos desafios, particularmente num ambiente tecnológico que reina na chamada sociedade da informação, sem levar em contar a necessidade de aquisição de novas competências para atuação em suas áreas de interesses, mesmo fora do meio acadêmico.

Diante do apresentado é factível assinalar que a formação continuada de docentes de nível superior, tendo a EAD como uma possibilidade real, é uma necessidade premente para fazer face às evoluções tecnológicas imersas na sociedade moderna, onde o professor apoderar-se-á de novos saberes para aplicar, com eficiência e eficácia, novas práticas pedagógicas e conteúdos recentes debatidos no mundo globalizado em que vivemos, aumentando a velocidade da transmissão dos conhecimentos formais aos seus discentes.


Escrito por: Prof. José Gladistone da Rocha.

REFERÊNCIAS

[1] BARRETO, Raquel Goulart. Tecnologias educacionais e educação a distância: avaliando políticas e práticas. Rio de Janeiro: Quartet, 2ª ed., 2003, 192p.

[2] CHAUÍ, M. A. A universidade operacional. Folha de São Paulo. Caderno Mais! 09/05/99.

[3] Lei de Diretrizes e Base (LDB). Lei n° 9394 de 1996.

[4] ROCHA, José Gladistone. A Educação a Distância como Instrumento de Possibilidade da Educação Continuada do Docente de Nível Superior. Universidade Castelo Branco. Rio de Janeiro. 2009.

[5] ZAGURY, Tânia. O Professor Refém. Rio de Janeiro: Record, 8ª ed., 2007, 301 p.
1Fonte: [4].

domingo, 5 de agosto de 2012

O Ensino Superior e as três Pirâmides

Ao nascermos é comum nossos pais profetizarem que seremos doutores, felizes e muito ricos. Essa profecia termina se instalando em nossas mentes, nos acompanha em nossa infância, adolescência, fase adulta e, por vezes, na melhor idade. Quase que sempre, mesmo que inconscientemente, também acabamos profetizando o mesmo para os nossos filhos. Com essa constatação, pergunto-me se esse comportamento é de fato o mais acertado que podemos ter ao imaginarmos uma nação verdadeiramente sadia. Não bastaria que nossos filhos fossem apenas felizes? Por que a necessidade de se ter riqueza e um curso de doutorado?








Permitam-me chamar esse cenário de Conflito das três Pirâmides. A primeira é a Pirâmide Econômica. Ela estabelece o nível de ascensão econômica que possuímos. A segunda é a Pirâmide Intelectual. Essa nos diz qual o nível de profundidade de conhecimento que realmente desejamos ter. A última se chama Pirâmide Psicossocial, que nos remete a aspectos mais abrangentes acerca da vida em si como, por exemplo, família, lazer, saúde, autoestima e amizade. Diria que essa última é a que está mais intrinsecamente relacionada à capacidade de  sermos felizes. Certamente é a que deveria primordialmente guiar as nossas escolhas. A solução para esse conflito é deveras complexa, pois envolve ao menos quatro entidades especiais: o aluno, a família, a IES e o próprio Estado.

O aluno porque corre o risco de optar por frequentar a escola, especialmente as Instituições de Ensino Superior  (IES), na inocente crença de que um diploma de curso bastará para  o cumprimento da profecia: será doutor, rico e feliz. Ledo engano. Profissionais com nível de educação superior que não ocupam cargos de liderança não tiveram valorização salarial entre 2003 e 2010. É o que aponta a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que comparou o aumento salarial dos profissionais com ensino superior (0,3%) e a média salarial no país (19%) no período citado. Esses dados precisam ser divulgados amplamente para permitir uma conscientização maior sobre essa questão. A escolha por frequentar o Ensino Superior somente pode ser feita após uma exame profundo da Pirâmide Psicossocial.

A família, sem generalizar, porque muitas vezes adota uma postura que induz seus filhos, que serão os futuros alunos das IES, a terem o comportamento indevido de associar o conceito de riqueza e felicidade à condição de serem doutores em alguma área de conhecimento, não importando qual. A família deveria ter o entendimento de que a escolha profissional é totalmente individual, cabendo exclusivamente ao filho. Caberia à família, tão somente, o suporte para que essa escolha fosse a mais acertada possível, considerando, primeiramente, a Pirâmide Psicossocial para, somente então, passar a considerar as Pirâmides Econômica e Intelectual.

A IES porque não pode perceber esse cenário de conflito como uma oportunidade para o seu próprio engrandecimento, especialmente quando trata-se do aspecto financeiro. A missão da IES é promover, de forma sempre nobre, a educação. A IES não pode seguir um modelo pedagógico estático e/ou único. Deve dinamicamente buscar atender às necessidades correntes da sociedade. Infelizmente, essa não é uma realidade absoluta.  Inúmeras reportagens já foram veiculadas na mídia, por exemplo, sobre diplomas falsificados bem como IES que não possuem as condições mínimas necessárias para o funcionamento regular dos cursos oferecidos. A constatação atual é que a qualidade das IES vem caindo vertiginosamente.


Por último, o Estado porque não pode ceder às pressões provenientes de organismos internacionais que o impelem a alcançar estatísticas no setor educacional ditas ideais. Recentemente, foi divulgado que a meta é alcançarmos 10 milhões de alunos matriculados em IES até 2015. Isso levará o país a possuir a marca de 50% dos jovens, entre 18 e 25 anos, no Ensino Superior. Para consecução dessa meta será necessária a inclusão de mais quatro milhões de alunos nos próximos quatro anos.  Estima-se que cerca de 75% desse total será absorvido por IES particulares e o restante por IES públicas. Pergunto-me se realmente o país precisa desse número? Não existiriam cursos de nível técnico tão importantes quanto, ou até mais importantes, que mereceriam um estímulo semelhante? O Estado precisa obviamente criar políticas sérias que objetivem o desenvolvimento do país, mas não pode esquecer-se que uma sociedade é formada por pessoas e não por robôs programados para este ou aquele fim.








Em conclusão, a resolução do Conflito das três Pirâmides certamente fará do nosso país uma nação que, talvez, não seja a mais desenvolvida, a mais rica, nem a mais povoada por doutores, mas certamente será uma das mais sadias e, sobretudo, felizes.


Que Deus, como quer que você o imagine, te faça sempre feliz.


Escrito por:  prof. Carlo Kleber.