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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O objetivo e o caminho





O choque de gerações é algo comum desde que o homem paga imposto. As visões de mundo e a percepção dele variam de acordo com cada um. O contexto muda, a percepção muda. As tecnologias evoluem, a percepção muda. Um homem do início do século XX vivia ainda os reflexos da 1ª Revolução Industrial. O homem do século XXI escuta rumores de uma 4ª Revolução.

A geração Y, pós-internet, vive de modo diferente da minha velha geração Y. Seu mundo, particularmente no Brasil, é muito diferente do que a minha geração viu. Inflação, por exemplo, é coisa de livro-didático, ensinado nas escolas. Está certo: um dólar hoje não tem o mesmo valor, em reais, amanhã. Porém, a flutuação é pequena. Inflação de 80% em um só mês?! Não fazem a menor ideia do que é isso.

Assim, observamos, a priori, que a vida dos atuais e jovens estudantes e profissionais é diferente da velha geração Y. Minha geração olhava o futuro: aonde chegar. Mesmo porque o presente era o Governo Militar e a inflação. Pensávamos em longo prazo, mirando um lugar para chegarmos. Além disso, planejávamos a nossa vida de modo que conseguíssemos, um dia, atingirmos esse objetivo.

A atual geração Y, no entanto, parece que trabalha em curto prazo. Sim, claro, possuem um objetivo. Porém, ele não é a prioridade. Seu foco está no presente, no hoje, senão no agora e neste instante. Uma vida pautada no que fazemos, não onde chegaremos. A vida intensa, se possível sem nenhuma dor. Um objetivo estabelecido. Porém, não para agora, não é?

Minha geração aceitava a dor por entender que era um meio, pois sabíamos qual fim queríamos. Ninguém gosta de sofrer. Não se deixa o dente doer, seja um dente X, seja um dente Y. Porém, a resignação, a resiliência, a aceitação são totalmente diferentes em cada geração. O longo prazo atenua o que o curto (curtíssimo?) prazo execra, afasta.

Isso se reflete na sala de aula. Lembro-me das noites na faculdade: pessoas mais velhas, na casa dos vinte e cinco anos, mas atentas. Sabiam o que queriam. Aceitavam um dia de trabalho e os rigores das salas de aula com retroprojetores (caso existissem essas tecnologias de ponta!). Os desconfortos (cansaço, sala de aula, professores) eram necessários para um bem maior.

O aluno Y precisa do hoje. Esses conceitos eu utilizarei hoje? Qual o significado deles? Para que eu preciso disso? Planejamento? Não sei nada sobre isso. Cronograma? Metas? Uma plêiade de nomes vagos de significados obscuros e de propósitos menos ainda claros. O estudante Y precisa daquilo para já. Por que essa cadeira é assim? Onde está o powerpoint?!

A visão do futuro traz a necessidade de planejarmos os passos. A ênfase no objetivo fez a minha geração construir seus próprios caminhos baseados na convicção de que os esforços, os sacrifícios e, por que não dizer a dor, eram necessárias como partes aceitáveis do grande plano da vida X. Talvez por isso toda questão tenha um X (o “X” da questão?).

A Y pensa no caminho. Sem dor, com prazer, vivendo ao máximo cada segundo. Amanhã, nem pensar. Futuro? Não sabe precisar. Geração sem paciência e sem resiliência. Facilmente estressável. Pensamos até que preguiçosa. Não. Escrever, pensar, ler, são tarefas que trazem desconforto, trazem dor. As atividades de sala de aula X não funcionam na sala dos Y.

Encerro estas linhas com uma palavra de otimismo. Não reclamemos dos Y. A Z está aí...

Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )