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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 23 de julho de 2011

Ensino à distância na Educação Superior


A legislação do Ministério da Educação atualmente permite às Instituições de Ensino Superior (IES) adotarem, em até 20% da carga horária de seus currículos de cursos, a modalidade de ensino a distância (EAD), o que motivou muitas IES a adotarem essa prática mas com algumas dificuldades que abordarei adiante.

O universo de estudantes do ensino superior é bastante heterogêneo (faixas etárias, nível de conhecimento, habilidade em uso de novas tecnologias, etc), o que torna por si só um elemento bastante dificultador para as práticas docentes de uma maneira geral. Observo que a reação negativa dos alunos de faculdades quanto ao aprendizado de disciplinas por meio do EAD é bastante contundente – aqui cabe fazer algumas considerações que envolvem toda a estrutura do ensino (aluno, instituição, professores, suporte técnico).


Com relação ao aluno,  o EAD é mais exigente e disciplinador. Isso porque devem ser adotadas rotinas na busca do conhecimento ofertado nos diversos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), sob pena de não acompanharem a exposição dos assuntos previstos pelas disciplinas que são trabalhadas nesse modelo. Na minha opinião, essa é a maior resistência dos alunos, seguida da falta de conhecimento das funcionalidades dos AVA e da pouca habilidade em trabalharem com tecnologias, dentro desse universo heterogêneo de alunos.


As IES, por sua vez, não adotam critérios mais rigorosos na seleção, em cada curso, de quais disciplinas seriam mais adaptadas ao modelo EAD e assim possibilitarem minimizar o “trauma” dos alunos durante suas práticas ao longo do semestre letivo. Aliado a isto, outros fatores contribuem negativamente como: falta de preparação do material didático de forma adequada; não capacitação dos professores e tutores no uso de tecnologias que suportam a EAD como fóruns, listas de discussões, vídeo e áudio aulas, avaliações “on-line”, e outras; falta de maior amigabilidade e facilidade de navegação desses ambientes que facilitem a interação professor-aluno-instituição.


Observo que gradualmente a educação (em todos os níveis) vem passando por uma transição de eminentemente presencial para aprendizado a distância. Isto, a meu ver, ainda levará alguns anos, onde a chamada “geração Z” está incluída no contexto de uso de Tecnologias da Informação (TI) e são bem mais aderentes ao modelo EAD, pois aprendem, ao longo da vida, que seu uso ocorre de uma maneira bastante transparente e natural – eventualmente tais alunos ao ingressarem no ensino superior não encararão o EAD de forma reativa mas como um processo natural de ensino-aprendizagem, o que não ocorre com o universo de alunos atualmente.


Se fosse realizada uma pesquisa (acho que merecia esse estudo) entre os alunos de nível superior que atualmente estão matriculados em IES em cursos de graduação, seria bem provável observar que uma boa porcentagem deles buscam uma segunda graduação e arrisco a dizer que, atualmente, aqueles que não se enquadram nesta característica possuem uma grande probabilidade de insucesso em sua conclusão.


Vejo com bons olhos o EAD, pois possibilita ao discente administrar melhor seus momentos de aprendizagem, muito embora diferentemente do que se possa imaginar, não é tão vantajoso financeiramente se comparado ao ensino presencial. Mas é preciso considerar aspectos, como os aqui indicados, para que o EAD não se transforme meramente em instrumento econômico adotados pelas IES, mas revestir esse modelo de forma a proporcionar qualidade no ensino prestado, particularmente quando se trata de formação de futuros profissionais para o mercado de trabalho.


Existem vários outros pontos que merecem destaque sobre este assunto, mas me furtarei de abordar para não me delongar mais.
   
                                                                      Escrito por: Prof. José Gladistone


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Profissões de Ensino Superior

O diploma do Ensino Superior tem sido visto como o único passaporte para viajar em direção a uma profissão valorizada, respeitável e bem remunerada. Esse pensamento, no entanto, não me parece correto. Existem inúmeras profissões,  importantes e essenciais para a sociedade, que não demandam a realização de um Curso Superior. Todas as profissões, sejam elas provenientes ou não de Ensino Superior,  devem ser valorizadas, respeitáveis e bem remuneradas. Esse deve ser o ponto de partida para uma reflexão séria e, sobretudo, livre de preconceitos sobre o assunto.

           O Ensino Superior deve ser buscado apenas  pelo cidadão que verdadeiramente  vislumbra sua realização profissional por meio do exercício de uma profissão que requeira o ingresso em uma Instituição de Ensino Superior (IES). Não deve haver qualquer expectativa relacionada a ganhos financeiros. A escolha deve ser pautada em vocação. Por exemplo, se o cidadão entende que sua vocação profissional direciona-se ao exercício da Medicina ou Engenharia, então esse cidadão precisará cursar uma IES. Por outro lado, se  o cidadão entende que ser um carteiro lhe traz plena realização profissional, então não há a necessidade de ingresso em uma IES.

           A raiz desse pensamento errôneo, i.e., acreditar que o diploma é o único caminho para uma profissão respeitável, valorizada e bem remunerada, decorre da falta de entendimento de que todas as profissões são igualmente importantes para o desenvolvimento do país. Essa distorção infelizmente  se apresenta no seio das famílias brasileiras e parece invadir os mais altos escalões do Governo que tratam do assunto Ensino Superior. Há aparentemente um preconceito social associado e fortalecido por políticas governamentais incorretas, tendo em vista que essas focam exclusivamente dados estatísticos, os quais sozinhos não revelam absolutamente nada.

           Existem inúmeros estudos que fazem projeções sobre as profissões do futuro. Em todos eles não é possível identificar  em destaque apenas profissões provenientes de uma formação em uma IES. Considerando a indústria, por exemplo, o destaque ocorre de forma mais contundente ainda: a maioria das profissões do futuro pertencem ao nível técnico. Por exemplo, carreiras voltadas para a produção de cerâmica para construção civil e para manipulação de medicamentos estão quase sempre em evidência.

        Esse estigma social negativo - de não possuir um diploma de Ensino Superior - deve então ser imediatamente combatido  e expurgado de nossa sociedade. Toda profissão é digna: deve ser respeitável, valorizada e bem remunerada. Devemos trabalhar em prol desse pensamento. O processo notadamente não é simples, mas deve ser encarado de frente para evitar que tenhamos o estabelecimento de uma significativa massa de profissionais frustrados no exercício de suas atividades. Isso para não mencionar o fato de potencialmente termos uma boa parcela desses profissionais exercendo atividades que nada têm a ver com o diploma conseguido.

           Se entendermos então que nem todos os cidadão brasileiros precisam ou desejam ingressar em uma IES para atingir a realização profissional, temos então maior clareza para discutir sobre as políticas a serem desenvolvidas para o Ensino Superior. Para exemplificar, analisemos  o número de vagas a serem criadas no Ensino Superior. Hoje a expectativa criada é  termos um acréscimo de mais quatro milhões de alunos matriculados em IES até 2015. Isso significa que o investimento financeiro originalmente imaginado para a criação dessas vagas pode ser menor. Veja que o resíduo desse investimento original  pode então, por exemplo, ser destinado ao financiamento de projetos e  à criação de bolsas de pesquisa. Isso fortalecerá o próprio Ensino Superior.

           Nesse mesmo viés, as pressões pelo aumento de alunos no Ensino Superior diminuirão e as IES não mais exercerão a função distorcida de simples fabricantes de diplomas. As IES passam a verdadeiramente cumprir sua finalidade em prol do avanço do país: formar uma massa crítica de profissionais em nível de Ensino Superior. Decorre disso, por exemplo, a possibilidade da elaboração de mecanismos mais eficientes de avaliação e acompanhamento do funcionamento das próprias IES. Isso com o intuito de garantir a qualidade dos cursos oferecidos e, consequentemente, dos profissionais então formados.

          Em um próximo artigo, continuaremos a debater esse assunto. Nesse ínterim, sinta-se livre para opinar e, caso possível, assista à palestra de  Barry Schrwartz que traz uma interessante reflexão sobre o crescente número de escolhas que temos de fazer  em nossas vidas.

Que Deus, como quer que você o imagine, te faça feliz.

                                                                                           Escrito por: Prof. Carlo Kleber