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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Profissões de Ensino Superior

O diploma do Ensino Superior tem sido visto como o único passaporte para viajar em direção a uma profissão valorizada, respeitável e bem remunerada. Esse pensamento, no entanto, não me parece correto. Existem inúmeras profissões,  importantes e essenciais para a sociedade, que não demandam a realização de um Curso Superior. Todas as profissões, sejam elas provenientes ou não de Ensino Superior,  devem ser valorizadas, respeitáveis e bem remuneradas. Esse deve ser o ponto de partida para uma reflexão séria e, sobretudo, livre de preconceitos sobre o assunto.

           O Ensino Superior deve ser buscado apenas  pelo cidadão que verdadeiramente  vislumbra sua realização profissional por meio do exercício de uma profissão que requeira o ingresso em uma Instituição de Ensino Superior (IES). Não deve haver qualquer expectativa relacionada a ganhos financeiros. A escolha deve ser pautada em vocação. Por exemplo, se o cidadão entende que sua vocação profissional direciona-se ao exercício da Medicina ou Engenharia, então esse cidadão precisará cursar uma IES. Por outro lado, se  o cidadão entende que ser um carteiro lhe traz plena realização profissional, então não há a necessidade de ingresso em uma IES.

           A raiz desse pensamento errôneo, i.e., acreditar que o diploma é o único caminho para uma profissão respeitável, valorizada e bem remunerada, decorre da falta de entendimento de que todas as profissões são igualmente importantes para o desenvolvimento do país. Essa distorção infelizmente  se apresenta no seio das famílias brasileiras e parece invadir os mais altos escalões do Governo que tratam do assunto Ensino Superior. Há aparentemente um preconceito social associado e fortalecido por políticas governamentais incorretas, tendo em vista que essas focam exclusivamente dados estatísticos, os quais sozinhos não revelam absolutamente nada.

           Existem inúmeros estudos que fazem projeções sobre as profissões do futuro. Em todos eles não é possível identificar  em destaque apenas profissões provenientes de uma formação em uma IES. Considerando a indústria, por exemplo, o destaque ocorre de forma mais contundente ainda: a maioria das profissões do futuro pertencem ao nível técnico. Por exemplo, carreiras voltadas para a produção de cerâmica para construção civil e para manipulação de medicamentos estão quase sempre em evidência.

        Esse estigma social negativo - de não possuir um diploma de Ensino Superior - deve então ser imediatamente combatido  e expurgado de nossa sociedade. Toda profissão é digna: deve ser respeitável, valorizada e bem remunerada. Devemos trabalhar em prol desse pensamento. O processo notadamente não é simples, mas deve ser encarado de frente para evitar que tenhamos o estabelecimento de uma significativa massa de profissionais frustrados no exercício de suas atividades. Isso para não mencionar o fato de potencialmente termos uma boa parcela desses profissionais exercendo atividades que nada têm a ver com o diploma conseguido.

           Se entendermos então que nem todos os cidadão brasileiros precisam ou desejam ingressar em uma IES para atingir a realização profissional, temos então maior clareza para discutir sobre as políticas a serem desenvolvidas para o Ensino Superior. Para exemplificar, analisemos  o número de vagas a serem criadas no Ensino Superior. Hoje a expectativa criada é  termos um acréscimo de mais quatro milhões de alunos matriculados em IES até 2015. Isso significa que o investimento financeiro originalmente imaginado para a criação dessas vagas pode ser menor. Veja que o resíduo desse investimento original  pode então, por exemplo, ser destinado ao financiamento de projetos e  à criação de bolsas de pesquisa. Isso fortalecerá o próprio Ensino Superior.

           Nesse mesmo viés, as pressões pelo aumento de alunos no Ensino Superior diminuirão e as IES não mais exercerão a função distorcida de simples fabricantes de diplomas. As IES passam a verdadeiramente cumprir sua finalidade em prol do avanço do país: formar uma massa crítica de profissionais em nível de Ensino Superior. Decorre disso, por exemplo, a possibilidade da elaboração de mecanismos mais eficientes de avaliação e acompanhamento do funcionamento das próprias IES. Isso com o intuito de garantir a qualidade dos cursos oferecidos e, consequentemente, dos profissionais então formados.

          Em um próximo artigo, continuaremos a debater esse assunto. Nesse ínterim, sinta-se livre para opinar e, caso possível, assista à palestra de  Barry Schrwartz que traz uma interessante reflexão sobre o crescente número de escolhas que temos de fazer  em nossas vidas.

Que Deus, como quer que você o imagine, te faça feliz.

                                                                                           Escrito por: Prof. Carlo Kleber

Um comentário:

  1. VALORIZAÇÃO E REMUNERAÇÃO

    Vc foi feliz ao escrever no quinto parágrafo que “Toda profissão é digna: deve ser respeitável, valorizada e bem remunerada”. Infelizmente, esses adjetivos estão longe de serem alcançados em todas as profissões, como por exemplo, a de carteiro, varredores de ruas, engenheiros militares, etc. Essas, entre outras, talvez, talvez, algum dia, sejam valorizadas e bem remuneradas. Mas não creio que, no Brasil, essas qualificações dependam somente de estudos, cursos de graduação, pós-gradução, mestrados, doutorados. Em minha opinião, isso depende também de política, P O L Í T I C A. A política manda e desmanda, faz chover, faz morrer, faz prender, faz soltar e faz muitas outras coisas, boas e ruins. A política é quem define os salários. É ela quem comanda, e a maioria desse comando não possue nem sequer o ensino médio.
    Respondam-me: qual a carreira mais valorizada? A das Forças Armadas ou a da Polícia Federal? A do Magistério ou a de deputado (letra minúscula sim). Simples de responder: basta verificar o quanto ganha cada um. Pois é! Na prática, em nossa sociedade, valorização e remuneração são diretamentes proporcionais. Exemplo: Na carreira de policial militar, para quem conhece, qual é a mais valorizada? A do Rio de Janeiro ou a do Distrito Federal? Quem é mais feliz?
    É certo que, hoje em dia, a graduação é mais acessível aos brasileiros do que foi há algum tempo atrás. Hoje nós temos carteiros, mestres de obras, policiais, varredores de ruas e até políticos que possuem um ou mais cursos de graduação. Mas qual dessas profissões é a mais valorizada?
    Infelizmente, só é valorizado quem ganha bem, o resto é utopia. Mas, enquanto a nossa cultura não muda, resta às profissões, como as citadas na terceira linha, valorizarem a si mesmos e serem felizes com os seus salários, se puderem.

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