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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

terça-feira, 24 de março de 2015

Destecnologizando a sala de aula



As ferramentas disponibilizadas pela tecnologia da informação (TI) facilitaram o processo de ensino-aprendizagem. Sistemas de busca, trabalho colaborativo, processamento eletrônico de documentos, planilhas eletrônicas, apresentadores, dentre outros, facilitaram a exposição, desenvolvimento e aperfeiçoamento de conteúdos. Para professores e estudantes.
Contudo, sabemos que a evolução da humanidade se deu pelas carências, não pelos excessos. A falta de iluminação trouxe a lâmpada elétrica. A dificuldade de comunicação trouxe o telefone. Depois, a internet. Todas as invenções, particularmente as que mudaram dramaticamente a vida, o cotidiano, surgiram da escassez, não da abundância.
Acredito que, na contramão do excesso de TI, há uma nova necessidade em sala de aula. Algo ligado à inteligência artificial? Comunicação de voz e dados ultrarrápidos? Não! Quadro e giz. Quadro e giz? Sim, isso mesmo. Ou, para os velhos mestres: “cuspe e giz”. As novas tecnologias abriram espaço para velhas respostas, elas mesmas evolução em um dado momento da história.
As facilidades criaram efeitos colaterais, danosos para a educação. Fotografar slides em sala, ou palavras escritas no quadro, criaram alunos com preguiça de escrever. Digitar é apenas um processo braçal de transmitir arte que o cérebro esculpiu e a linguagem formatou. Uma máquina de escrever (guardo ainda minha velha e querida Olivetti) tem tanta importância quanto um lápis ou uma caneta.
As cerca de quinhentas e trinta mil redações com nota zero do Exame nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2014 são um alarme. Há um incêndio na sala de aula: pensar (e escrever). Os alunos, pouco a pouco, perderam a capacidade de se expressarem utilizando um material gráfico. Como aquele tal uso e desuso dos órgãos que aprendi nas aulas de Biologia: não usa, o corpo descarta.
Os resumos de livros, que antes devorávamos nas leituras da juventude, deram lugar a alunos não pensantes, não analisadores e não escreventes. Uma lástima. Certa vez uma aluna me perguntou se eu li Guerra e Paz (do imortal Tolstói). Disse que sim. Ela me falou que era muito grande e pensava em apenas pegar o resumo. Disse que isso equivalia a um tiro na sua formação.
Uma colega professora adotou uma nova postura com seus alunos. Ou, melhor dizendo, velha postura: adotou livro-texto e caderno. Aboliu o powerpoint e passou a escrever no quadro branco (o giz tem que evoluir). Fez os alunos voltarem a escrever, perguntar, fazer lição de casa, fazer exercícios em sala. Passou a pontuar os cadernos. Enfim, voltou aos “velhos tempos”.
Passei a utilizar o mesmo procedimento. Surpresa: os alunos gostaram! Disseram-me que estavam acostumados a isso e estão contentes. Caramba, eu que pensei que seria uma grande dificuldade. Adotei um portfólio de tarefas, tarefas essas que cobrarei sua confecção dentro de um cronograma pré-estabelecido. Nada ficará ao acaso.
Distribuí revistas que assino e guardava, por pena de dar um destino menos glorioso, e mandei escolherem, e lerem, assuntos de seu interesse. Claro, redigissem um texto, dentro de algumas regras simples e objetivas. Muitos disseram que não faziam ideia dos conteúdos que encontraram. Fiz isso com a finalidade de dar conhecimentos gerais e capacidade de síntese.

Descobri que tecnologias consagradas não se esquecem no tempo e se relegam à história da educação. Ainda há espaço para velhas ferramentas. Afinal, o que interessa é aprender. Muitos conceitos se criam, mas não seria prudente esquecer da velha sala, da velha carteira, do velho quadro. Tudo bem, com o novo quadro branco e o novo pincel para ele.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )