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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Ser ou não ser preconceituoso, eis a questão.




Outro dia estava em sala de aula apresentando uma palestra sobre sustentabilidade. O tema se ligava à gestão de pessoas de forma sustentável. Preparei-me para o evento por meio de uma pesquisa de campo onde verifiquei, num posto de gasolina, como era o processo de recrutamento e seleção de novos frentistas.

A apresentação corria um tanto quanto “morna” até que mencionei que o gestor/gerente do posto, entre várias perguntas, inquiria se os candidatos possuíam alguma religião. Ao expor o item em sala me deparei com um debate acirrado sobre esse critério do gestor. Algumas alunas se manifestaram contra a atitude do gerente, alegando ser ele uma pessoa “discriminadora”.

Aleguei, a meu turno, que a pergunta se baseava em uma razão prática. Ele me disse que o posto tinha como princípio a honestidade, coisa muito contestada neste século, particularmente em Brasília. Disse que, na sua experiência de mais de dez anos naquele posto ele percebeu que os funcionários/colaboradores que possuíam algum apego religioso tinham maior facilidade de se adaptar ao que o posto pregava.

Seguiu-se um debate em sala sobre o assunto. Alunas se postavam contra esse critério, chegando mesmo a dizer que “jamais trabalhariam naquele lugar”. Outros alunos colocaram que era apenas uma pergunta, entre várias outras, e que mesmo o fato de um colaborador ser ateu “não impediria sua entrada no posto”.

Prossegui a palestra deixando para as mesmas alunas duas perguntas. Primeira: “se vocês tivessem uma empresa e necessitassem de um contador, contratariam o Delúbio Soares? Segunda: “se vocês precisassem contratar uma babá para trabalhar e morar em suas casas, contrataria uma ex-presidiária que cumpriu pena por assalto e homicídio?”. Não pedi nenhuma resposta para nenhuma das perguntas, apenas que eles pensassem.
O caso não parou por aí. Em outra aula, dois dias depois, comentei sobre a senhora que foi morta em Santos-SP por ser confundida com uma suposta adoradora do demo cuja foto circulava em redes sociais. A senhora teria certo grau de semelhança com a suposta adoradora. Não bastou que a senhora viesse da igreja e tivesse uma bíblia sob o braço: foi linchada e morta.

Coloquei a situação para debate em sala e um aluno ponderou que “o povo estava certo”. Aduziu que “a segurança estava ruim e que as pessoas podiam fazer o que quisessem”. Face às manifestações dele, também deixei uma pergunta à queima-roupa: “o povo teria o direito de linchar e matar alguém, qualquer pessoa, incluindo se essa pessoa fosse a mãe dele?” Não pedi, como no caso das alunas, que ele me deixasse uma reposta.

Creio que essas duas situações trazem graves questões para a sala de aula: nossos alunos cresceram sob a ótica de quais valores? Será que os julgamentos carecem de maior reflexão ou a tábua de comparação de medidas, a régua da ética, está com problemas com o INMETRO? Qualquer uma das causas é portadora de uma preocupação profunda.

Os dois casos refletem apenas casos em que se acendem a luz de alerta sobre o grau de avaliação de futuros profissionais. Lembremos que esses são os valores que eles utilizarão para julgar, avaliar e decidir. Lembremos que, a priori, esta geração é egocêntrica e descompromissada com tudo que não sejam eles mesmos, além de baixíssima resiliência a fracassos.


Os professores necessitam, entre tantas outras questões, auxiliarem na detecção dessas realidades. Afinal, seus filhos e/ou netos são, ou serão, julgados, por profissionais dessa geração. O futuro se avizinha como uma perspectiva de necessidades individuais dentro das coletividades. É preciso agir para que todos sejam felizes para que cada um seja feliz.

Escrito por: Professor e Educador Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )