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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 16 de junho de 2012

Motivação Educacional no Ensino Superior

Conforme a Wikipédia: motivação (do Latim moveres, mover) denomina em psicologia, em etologia e em outras ciências humanas, a condição do organismo que influencia a direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Em outras palavras é o impulso interno que leva à ação. Assim a principal questão da psicologia da motivação é "por que o indivíduo se comporta da maneira como ele o faz?". "O estudo da motivação comporta a busca de princípios (gerais) que nos auxiliem a compreender, por que seres humanos e animais em determinadas situações específicas escolhem, iniciam e mantém determinadas ações". 

Assim, de posse deste conceito e levando-o a cabo, pode-se inferir que a motivação muito provavelmente seja a mola propulsora em nossas vidas, e que nos estimula e norteia os sentidos para construção de algo maior que nos faça sentido e, ao mesmo tempo, represente a expressão fiel da necessidade de se manter ativo em qualquer contexto a ser enfrentado.

Não diferente disto o discente navega ao longo de sua vida educacional em um verdadeiro mar de desafios que, por vezes, há de se conflitar com a vontade e a adversidade em sua jornada cotidiana em busca do conhecimento – verdadeiramente, em algum momento repleto de incertezas e dúvidas recorrentes. 

A par disso, o estímulo para dispender energia voltada ao processo de aprendizado requer precipuamente que há de se fazer sentido real para a formação profissional, de forma a suprir essa motivação educacional que se estende ao mundo pós-acadêmico, para que se conclua que realmente valeu a pena a aquisição de habilidades e conhecimentos a serem postos em prática. 

Sabe-se que no universo acadêmico existem algumas categorias de discentes1, muito embora não gosto de taxá-las dessa forma, fruto exatamente dos objetivos a que propuseram-se os alunos ao adentrarem no ensino superior – é um fato que pode ser atestado no cotidiano dos bancos das salas de aula. Então me pergunto se há uma relação direta entre tais objetivos e o espírito motivacional a que são investidos os alunos, cada um em seu contexto diferente, nas jornadas deste mundo de aprendizagem. 

Seríamos nós docentes capazes de transformar essa situação motivacional, onde o necessário para alguns torna-se esplendoroso para muitos? Digo, atrevidamente, certo que sim. Pois nós seres humanos temos um “core” motivador muitas vezes inerte. Motivar é algo individual, não coletivo – ledo engano pensar de forma contraditória (a meu ver). 

Trata-se realmente de uma descoberta e estreitamento de afinidade com o objeto do ensino e consequentemente da aprendizagem – molas essenciais para a evolução humana. Entendo assim que fazemos parte disso! 

Vejo sede em cada olhar de meus discentes, e também sabedoria a qual não me furto de buscar. Será que realmente somos senhores da verdade? Arrisco-me a responder que, conforme pensadores e filósofos do ensino como Platão, Aristóteles, Nietzsche e tantos outros que NÃO. 

Motivação... como assim? É um objetivo ou estado do ser presente? Sem demagogias, sejamos sinceros. Como encarar nossos objetivos? Buscar motivação exige força propulsora, orientada, centrada na qual outras variantes não desvirtuam seu fim – é a luz no fim do túnel. Cada um de nós, docentes e discentes, sabemos precipuamente o que queremos e por onde trilharmos. Mas me pergunto: como discentes isso realmente ocorre? Creio sinceramente que, em muitos casos, não. Este é nosso desafio, entender, compreender, “pescar”, sentir no estrito senso na interação professor-aluno, seja presencial ou mesmo a distância (EAD) de forma a ter esta percepção. 

Como então, após ter este senso perceptivo, reagir? Antes de responder, caberia uma indagação: para que isso? Simples, chega de educação bancária2, segundo relatam pedagogos como Paulo Freire, e concordo inconteste com eles! 

Sejamos (docentes) humildes o suficiente para reconhecer que nossos alunos acadêmicos carregam consigo variadas formas de saber, engrandecedoras e construtivas. Seria isto a falta do que precisávamos para alavancar seu estímulo e nortear sua motivação? Transpor barreiras, a meu ver medonhas, para realmente agregar valor na formação de futuros profissionais que galgarão pedestais que outrora conquistamos. 

Na prática, em ambientes educacionais, percebo variados contextos cujas adversidades constituem, a meu ver, um sublime desafio para o docente do ensino superior na formação consciente do profissional para o mercado de trabalho. Se não me fiz entendido, digo: ver, conhecer, dialogar, questionar nossos discentes de forma investigativa e comprometida com seu aprendizado visando perceber seu objetivo e mostrar-lhes que ser um profissional capaz e competente exige um esforço maior, embora isso deva ser considerado de forma diferenciada, pois cada um possui sensibilidades e emoções peculiares. 

Sinceridade seja feita, como estamos cansados de ouvir “não existe nada sem esforço”, e neste contexto, a formação de profissionais competentes redunda inevitavelmente em gasto de energia, de ambas as partes, e isto não é uma coisa tão trivial de se perseguir. Afinal de contas, porque estamos formando profissionais? Porque pessoas querem se profissionalizar? Com certeza existe uma razão. Buscar o conhecimento sério e eficiente para a nossa sociedade é necessário. Assim digo aos meus discentes que não se conquista nada na vida sem esforço, e nossa mola propulsora há de despertar ou calar-se até que novos eventos propulsionem nossa motivação para outros rumos – mesmo que sejam focados a objetivos diferentes dos idealizados inicialmente. 

Então digo e acredito: saber interagir com nossos discentes, perceber suas diferenças, vislumbrar suas aspirações e, acima de tudo, motivá-los é crucial, tanto quanto saber transmitir conhecimentos necessários para sua formação. Agradeço a meus discentes por terem me dado a oportunidade de enxergar isto!

Escrito por: Prof. José Gladistone.


1Ver neste Blog o artigo “Perfis de aluno do Ensino Superior”, do Prof. Carlo Kleber. 


2Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido (1968), definiu como "bancária" a pedagogia burguesa, comparando os educandos a meros depositários de uma bagagem de conhecimentos que deve ser assimilada sem discussão. Paradoxalmente, esta modalidade de educação teria como objetivo não equalizar os conhecimentos entre educador e educando, mas sim "manter a divisão entre os que sabem e os que não sabem, entre os oprimidos e os opressores". O educador é necessariamente um opressor.

sábado, 2 de junho de 2012

Qualificação ou Mediocridade?


Recentemente assistimos a uma troca de idéias a respeito dos concursos de admissão ao Instituto Rio Branco, onde são formados os diplomatas do Brasil. O Instituto sempre prezou pelo rigor com que selecionava e formava seus alunos, alguns dos quais tenho a satisfação de privar da amizade.


O debate se estendeu pela postura do Governo brasileiro de retirar a obrigatoriedade de fluência no idioma inglês, parte essencial dos concursos anteriores. Justificou-se dizendo que não era preciso saber inglês para representar o Brasil no exterior.

As razões mencionadas por Celso Amorim, então Ministro das Relações Exteriores, trouxeram à baila razões como a igualdade de condições entre os candidatos, diminuindo o peso no domínio do idioma em detrimento do conhecimento global dos candidatos em relação aos requisitos exigidos pelo concurso para acesso à carreira.

Ao longo de muitos anos assisti a uma série de mudanças na legislação do ensino no Brasil. Em nome da modernização do processo, vi decrescer o grau de exigência e dos padrões de aprovação dos alunos ao longo das etapas estabelecidas. Mudanças de nome à parte, não vi grandes avanços.

O que assisti, na realidade, foi a dilapidação dos padrões de exigência, levando a uma preocupação com índices em vez  de se preocuparem com o nível do que era ensinado. Coisas ridículas como a “alavancagem” de alunos reprovados numa série para reduzir as estatísticas sobre reprovação, por exemplo.

Não se melhora um país sem educação. Não se preparam os líderes de uma nação sem um preparo adequado. As lideranças futuras serão sempre comprometidas enquanto não cuidarmos da formação dos nossos líderes. O processo não visa a uma elitização do processo, mas sim à criação de uma elite.

Todos os povos possuem suas elites. Não uma elite social que se encontra nas colunas sociais, fruto da vaidade do ser humano. As elites são os profissionais que, em todos os escalões da sociedade brasileira, terão sobre seus ombros a responsabilidade de guiarem o Brasil na direção do progresso.

Elites não são classes separadas do restante da sociedade, como vimos em algumas culturas ao longo da história. As elites são formadas pelas pessoas que possuem a capacitação necessária para a tomada das decisões que se precisa para a condução de um povo. O povo brasileiro, ao longo dos anos, dilapidou seu processo de formação das suas elites.

As pessoas não são iguais. Criar processos de diminuir a distância entre a futura classe dirigente e o restante da população em nome de uma “igualdade de condições” é legalizar a incompetência. A sala de aula é o lugar mais importante nesse processo. Porém, não está mais sendo encarado como tal.

Professores deveriam ser muito bem capacitados, além de remunerados. Os processos de seleção aos cursos de formação profissional deveriam ser aperfeiçoados. O nível de exigência a ser aplicado deve ser balizado pela qualidade que se deseja. Não se enganem: a formação de profissionais está deficiente.

O dia a dia nos mostra que a exigência para se sacar dinheiro num caixa eletrônico é quase a mesma de se manusear um computador. Não temos como voltar. Queremos o melhor? Há que se melhorar a formação do brasileiro. Sem educação não há esperança.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto