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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Comentário sobre os comentaristas





Algo muito comum na sociedade ocidental são os comentaristas. Pegam-se pessoas de algum saber sobre um assunto e o põem a comentar sobre o assunto. A mídia, particularmente a televisionada, utiliza essas pessoas como um chamariz para as suas transmissões, visando captar a audiência do público, tão necessária para a captação de anunciantes para a emissora.

As transmissões esportivas são um bom exemplo dessa prática. Pegam um ex-jogador ou um ex-árbitro e montam uma equipe de transmissão. No caso, o desempenho anterior dentro dos campos, com a bola ou com o apito, trazem certa legitimidade aos comentários e, consequentemente, à transmissão esportiva. Alguns mais, outros menos, mas todos carregando esse “saber” adquirido nos campos.

Há também os comentaristas esportivos que nunca pisaram nos gramados participando ativamente do espetáculo, mas apenas como repórteres. Em campo ou nas cabines, esses comentaristas emprestam suas opiniões sobre o que assistem, de modo a dizer o que está certo ou errado, apontando erros e acertos, vaticinando sobre o resultado ou os desdobramentos de decisões de treinadores ou dos atores em campo.

Em outros campos também existem comentaristas. São pessoas que se afeiçoaram ao tema, tendo ou não conhecimento pedagógico sobre o assunto que comentam. Por exemplo, jornalistas que comentam sobre economia, tecnologia ou educação. Não possuem formação na área (Economia, Tecnologia da Informação ou Educação). Mas se colocam a pesquisar sobre o assunto a ponto de se destacar nos comentários acerca de assuntos do tema que comentam.

Acredito que uma pessoa possa se tornar um expert em um assunto. Uma pesquisa constante e seu interesse vivo pelo assunto podem torna-lo uma referência. Contudo, esse desempenho não o levará a fazer ciência ou a gerar conhecimento científico. Não produzirá algo de novo pelo fato de que seus comentários não encontrem respaldo na realidade: são “achismos”, são “penso que”, ou seja, o que chamamos de juízos de valor.

Pode-se facilmente verificar que isso é fato quando vimos um conhecido comentarista esportivo do Rio de Janeiro sair da confortável sala de transmissão de sua emissora e ir para o campo de jogo dirigir seu time do coração. Ou seja, foi chamado a transformar em fatos todos aqueles comentários que tão bem realizava à distância. Os resultados foram inegáveis: seus comentários não se transformaram em fatos e ele foi dispensado de suas funções.

Talvez buscassem repetir o fato do famoso João Saldanha, comentarista esportivo famoso, mas que tinha dirigido de fato (e com sucesso) equipes no gramado de jogo. Não basta sentar e achar que sabe: é preciso a fundamentação para exercer com competência qualquer profissão, mesmo a de comentarista. É preciso formação para ser, não para parecer que se é.

Os ex-atletas e ex-árbitros, por outro lado, possuem um conhecimento empírico, ou seja, fruto da experiência pessoal no decorrer de suas atuações. Não quer dizer que o que faziam com os pés ou com o apito se transformará em fundamentação para um desempenho promissor ou como comentarista ou como treinador de futebol. Tomemos o exemplo do Felipe Scolari: zagueiro ríspido e limitado. Porém, fora de campo, transformou-se em um treinador brilhante.

O conhecimento se produz com fundamentação. No campo da educação não se deveria seguir o exemplo de Jean-Jacques Rousseau, brilhante filósofo precursor da Revolução Francesa. Trilhou com brilhantismo as ideias do Contrato Social, falando de homens justos e bons, e outras ideias revolucionarias em seu tempo. Porém, mandou seus filhos para um orfanato. Talvez atrapalhassem seus estudos. Falar é uma coisa, fazer é outra.

Destaco, em contrapartida, o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Precursor do próprio Marx, falou, entre outras coisas, sobre educação. Deixou um legado sólido não só porque possuía um conhecimento teórico, fundado na sua formação acadêmica. Foi, por muitos anos, ligado à educação. Atuou com preceptor, na sala de aula e na reitoria, lidando tanto com a atividade-fim como com a atividade-meio.

Sabemos que no mundo do Google o conhecimento está mais acessível. Contudo, isso não pode se transformar em escudo para se esquivar da sólida formação acadêmica, aquela que legitima os profissionais para o desempenho de suas atividades. Sabemos que há exceções, aquelas que existem para confirmar a regra.


Conforme a Curva de Gauss (ele mesmo um gênio) esses livres-pensadores devem pertencer a 5% da população. Os demais necessitam de sólidos e dedicados estudos para que desempenhem com acerto a economia, a educação ou a tecnologia da informação. Sim, claro, o futebol também.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )