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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Apoio à pesquisa: caminhos que não se encontram



Conversava com um amigo, também professor, sobre recente visita à Lisboa, capital dos portugueses. Verifiquei a bela cidade que o povo lusitano construiu. Impressionei-me com belas obras e monumentos e sob o sol de final de inverno sobre o rio Tejo. Sem dúvida, uma cidade de primeiro mundo. Lisboa possui excelente transporte urbano, sistema de segurança que funciona e limpeza nota dez.

Porém, meu amigo ressaltou a diferença entre os portugueses e os norte-americanos. Enquanto Portugal existe há mais de mil anos, os Estados Unidos da América (EUA) são um pouco mais novos que nós no Brasil. A diferença de idade entre os dois países, europeu e americano, não impediu que os estadunidenses estejam anos-luz à frente dos portugueses. Entre vários itens, repousa a pesquisa.

Os portugueses possuem apenas um ganhador de prêmio Nobel: José Saramago. Entretanto, os EUA possuem vários em física, química, economia, paz, etc. A diferença é gritante. Discutimos eu e meu amigo sobre essa diferença. Concluímos que a inclinação de cada um dos povos marcou o desenvolvimento distinto e os resultados obtidos.

Os portugueses são um povo guerreiro. Saíram de seu pequeno país, após séculos de luta com seus rivais espanhóis, e ganharam o mundo. Os portugueses são comerciantes por excelência e não se intimidaram em conquistar o oceano Atlântico (o “mar Tenebroso”), dobrar o cabo da Boa Esperança, singrar o Índico e chegar ao Japão (o Cipango).

Os norte-americanos, ao contrário, construíram seu país em cima da educação. Firmaram suas bases nas escolas, desde a colônia. Esclarecimento levava a Deus e depois ao progresso. Fizeram da pesquisa um item essencial na construção do conhecimento. Ensinaram, e assim continuam, a ensinar o passo a passo para se chegar às respostas das muitas perguntas que o mundo fez, faz e fará.

Portanto, montado sobre uma educação nos níveis equivalentes ao nosso Fundamental e Médio, públicos e de qualidade, facilitando o ingresso na escola para todos, proporcionando ensino de qualidade e sem cobrança de mensalidade escolar, criaram cidadãos conscientes da importância da educação em suas vidas. Portanto, pesquisar é uma característica dos norte-americanos.

Muito se diz que nos EUA seus cidadãos conhecem muito de seu país e nada dos outros. É recorrente a piada que diz que para um norte-americano a capital do Brasil é Buenos Aires. Nós rimos disso e nos gabamos de saber que a capital da Mongólia é Ulan-Bator. Brilhante! Claro que nós, com o PIB caindo, IDH miserável e inflação crescente somos mais espertos que os norte-americanos!

Eles utilizam seus especialistas, profissionais sérios e dedicados, que se dedicam a estudar os mais variados assuntos nas universidades. Assim, se o governo ou uma empresa precisa de um conhecimento específico contrata um consultor em uma faculdade. Sem nenhum problema. Ele presta seu serviço e o contratante paga seu serviço. Sem nenhum trauma.

Aqui eu conversei com um professor universitário com mais de trinta anos na sua universidade (federal). Perguntei por que nosso distanciamento da pesquisa realizada e os resultados obtidos. Meu questionamento básico era: por que nossa pesquisa contribuiu tão pouco para os setores públicos e privados?

Em linhas gerais, ele me disse que não temos essa cultura. Temos o órgão fiscalizador de pesquisa no Ministério da Cultura, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Porém, eles se comprometem apenas com o processo, fiscalizando produção de artigos e outras publicações. Porém, a priori, não verificam onde o produto dessa pesquisa se aplicará.

É claro que isso não é regra geral. Existem centros de pesquisa dedicados e que possuem resultados práticos. Porém, parecem ilhas de excelência num mar de produtos entregues para ninguém usar. Portanto, nossa pesquisa não possui muitos aportes de recursos porque não é considerada como pertinente ou útil para encontrar respostas.

Vejam o caso do conselho montado na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para introduzir mudanças na gestão do futebol brasileiro: além de dirigentes, existem vários jogadores. Não que eles não entendam de futebol, pois possuem renome. Mas, além de comentar sobre futebol, que estudos realizaram para melhorar a gestão do futebol? Que clubes geriram para mostrar sua capacitação?

Mais uma vez afastamos profissionais da área de administração, do desporto, que se dedicam ao estudo sério de vários assuntos e onde, seguramente, existe estudo e trabalhos sobre a gestão do desporto nacional. Seriam esses desconhecidos menos capacitados para oferecerem alternativas à crise que se desenhava no futebol e que culminou nos 7 a 1?


Ainda temos que caminhar muito para chegarmos num nível razoável. A educação continua como plataforma de campanhas, mas como uma das primeiras a serem esquecidas terminadas as eleições.

Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )