Este é um espaço livre para conversarmos sobre o Ensino Superior no Brasil e no mundo. Gostaria de apresentar-lhe algumas reflexões sobre o assunto e, principalmente, conhecer as suas. Participe por meio de postagens e comentários. Seja bem-vindo.

Ensino Superior no Brasil e no Mundo

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Modelo de Educação Chinês no Brasil?

Ao se buscar soluções para os problemas da Educação brasileira é natural examinar aquilo que deu certo em outras partes do mundo. No entanto, sabemos que a adoção de uma solução estrangeira não necessariamente ocasionará o extermínio de todas as nossas mazelas educacionais. Isso decorre do simples fato de que a efetividade de uma solução está diretamente relacionada ao ambiente para o qual ela tenha sido concebida. Mesmo assim, simplesmente ignorar as soluções que deram certo em outras nações não seria pertinente.




Sob esse contexto, na reportagem de título Armas de Educação em Massa, publicada na revista Veja, Edição Nr. 2248, de 21 de dezembro de 2011,  o economista e especialista em educação Gustavo Ioschpe discorre sobre o modelo chinês de Ensino e pontua certos aspectos, considerados essenciais para o sucesso daquele país na atual conjuntura mundial. É passada a mensagem  de que trata-se de uma grande lição para o Brasil. 

Nesta oportunidade gostaria então de poder apresentar-lhe algumas reflexões sobre os aspectos que foram destacados na reportagem supracitada. Para tanto, buscarei, de forma abrangente, primeiramente explicitar uma síntese dos  aspectos então mencionados para,  em seguida, compartilhar as minhas reflexões.

1) Alunos, pais e professores - Pragmatismo, meritocracia, professores bem formados e premiados com dinheiro pelo bom desempenho, estudantes disciplinados e motivados por suas famílias. Essa é a fórmula do combustível da arma secreta chinesa para conquistar o mundo.

Esse aspecto me parece bem aplicável ao sistema educacional brasileiro. Salvo engano, não se vê qualquer elemento realmente impeditivo que inviabilize o esforço nessa direção. Não é simples. Trata-se possivelmente de uma questão relacionada à gestão. Temos estudantes brilhantes. Temos professores capazes. Temos famílias que orgulham-se de seus filhos e torcem para o seu sucesso acadêmico e profissional. Parece, no entanto, faltar ainda a contribuição mais efetiva do Estado: desenvolver políticas sérias e contundentes em prol do estabelecimento de um cenário promissor e de comprometimento. Isso será conseguido no momento em que tivermos os líderes políticos corretos nos lugares corretos. É preciso responsabilidade e consciência coletiva. É questão de tempo.  

2) Sala de aula - Não há turma do fundão, conversas paralelas, nem problemas de disciplina. Não há chamada nas aulas chinesas. No Brasil ainda se confunde ordem com autoritarismo, e a desordem é confundida com liberalidade. Não há a espetacularização das aulas. 

Observa-se aqui um cenário não condizente com aquele percebido em nosso país. Não trata-se de ser melhor ou pior. Trata-se de ser inteiramente diferente. Somos irremediavelmente alegres, descontraídos, informais. Muitas das vezes em excesso. Não gostamos de seguir regras. Muitos ainda acreditam em uma genialidade nata. Acreditam que o esforço, o estudo, a concentração, a dedicação são para aqueles que não nasceram prontos. Ledo engano. Quando pensa-se no país, tem-se então uma percepção ufanista. Não trata-se de concordar ou discordar, é apenas uma constatação do que pode ser observado em grande parte das salas de aula no Brasil. 

Sim, respeitando-se a nossa formação cultural, certamente precisamos investir na construção de ambientes livres que possibilitem aos nossos alunos desenvolverem suas habilidades individuais, se possível de forma cada vez mais autônoma. Esses ambientes, no entanto, também devem propiciar a oportunidade para que nossos alunos vejam que a liberdade oferecida gera uma correspondente responsabilidade. Em nossa bandeira está escrito: Ordem e Progresso. Esse é o caminho.

3) Ambiente acadêmico - A formação dos professores chineses é mais efetiva que a brasileira, pois há mais prática de sala de aula. Além disso, as escolas chinesas são mais pragmáticas e diversificadas na escolha de seus pensadores pedagógicos. Há um constante esforço para abrir-se para o mundo e ver o que funciona. Por fim, não há ideologias estabelecidas. Busca-se a neutralidade.

Nesse caso podemos sim basearmos-nos no modelo chinês. O aumento de atividades práticas é sempre bem visto e aceito. Não há argumentação contrária plausível. Devemos sim também estar abertos e prontos para observar o que está em voga no mundo e, em vez de endeusarmos um único modelo ideológico para a arrumação dos nossos programas pedagógicos, devemos trabalhar em prol da diversidade de pensamentos com a expectativa real de podermos com ela identificar valores que serão os alicerces de uma sociedade intelectualmente mais avançada.

4) Impulso histórico e cultural - Os chineses sentem que têm contas a acertar com o seu passado, e isso torna sua (da China) ascensão mais obstinada, sua tolerância por sacrifícios maior e sua determinação de voltar a rivalizar  com as potências que a humilharam ainda mais sólida.

Não há identificação com o enunciado. O Brasil historicamente é um país pacífico. Nossa história tem sido construída em meio a processos predominantemente mais flexíveis e/ou democráticos. A história da China é bem diferente. Não temos qualquer sentimento suficientemente contrário a qualquer nação que pudesse vir a se manifestar como uma verdadeira  rivalidade. Nosso lema tem sido a confraternização com todos os povos do mundo. Na conjuntura mundial não me parece que tencionamos uma hegemonia, mas sim um protagonismo político e econômico.

5) Políticas públicas - Em 2009, a China gastou 3,6% do PIB. O Brasil aumentou de 4,1% para 5,3% nos último sete anos, e a propaganda oficial continua aferrada a esses números como a um triunfo definitivo. Não é. A China sacrifica as ideologias sempre que elas conflitam com a busca de resultado.

Isso pode ser um grande ensinamento para o nossos líderes. A demagogia, por exemplo, deve ser extirpada. Podemos ter compaixão, demonstrar caridade, dar amor ao próximo, mas sem perdermos jamais a objetividade de nossas decisões. O resultado, sobretudo, deve ser o nosso mais importante farol para que as políticas sejam retificadas ou ratificadas.

Em conclusão, confirma-se então que a solução de fato está no entendimento de que não podemos simplesmente copiar modelos estrangeiros, mas esses podem indubitavelmente servir como uma importante referência  a ser observada, pois talvez nos traga percepções que nunca teríamos se não nos permitíssemos olhar para fora do nosso próprio ambiente, da nossa própria realidade.


Que Deus, como quer que você o imagine, te faça sempre feliz.


Escrito por: Prof. Carlo Kleber.

sábado, 5 de maio de 2012

Ensino Privado, vexame Público?


A tecnologia traz avanços para a Humanidade. Porém, nem tudo que proporciona é digno de nota. Ou melhor, alguns esquemas que surgem há anos em vários concursos vestibulares nos mostram o que são capazes de fazer alguns alunos em busca de uma boa nota nessas provas e os estelionatários dispostos a prestar esse “serviço”.
O intento pode ter sua origem na velha cobrança das famílias brasileiras de que o vestibular é o caminho natural para seus filhos quando terminam o Ensino Médio. A necessidade de aprovação pode gerar em alguns o medo do fracasso, a vergonha de decepcionar seus pais ou simplesmente refletir a incapacidade dele em poder lograr êxito sem um “jeitinho”.
Há muito tempo a necessidade de mais vagas para os Alunos que concluíam o antigo Curso Científico (depois Segundo Grau e agora Ensino Médio), demanda esta criada pelo compreensível aumento da população, gerou a necessidade de se complementarem as vagas oferecidas pelas Universidades Públicas com as vagas disponibilizadas pelas Instituições de Ensino particulares.
Contudo, a explosão que assistimos no número de vagas não foi acompanhada pela conseqüente manutenção dos padrões de ensino, onde expressões como “pagou, passou”  marcaram o Ensino Privado. Enquanto o Ensino Superior Público passou a ser um padrão de referência, o Ensino Privado ficou com a pecha, salvo honrosas exceções, de “inferior”.
Os dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso buscaram resgatar a qualidade do Ensino, sobretudo o Privado. As comissões do Ministério da Educação realmente assustaram seus dirigentes e possibilitaram um aumento da qualidade do ensino que proporcionavam. Muito do que se conseguiu em termos de melhoria, de uma forma ou de outra, cabem às iniciativas do Ministro Paulo Renato.
O Exame Nacional de Cursos – o Provão, visto com repulsa e rebeldia por muitos Alunos que, por isso, se recusaram a fazê-lo, foi uma tentativa de aferir a qualidade dos estudantes formados pelas Instituições Públicas e Particulares. Creio que quem não deve não teme e os que temeram o Provão ou não tinham qualidade suficiente para encará-lo ou então tinham motivos não educacionais para isso.
O fato é que o resgate do valor do diploma universitário tem levado muitas pessoas a ingressarem na Faculdades em busca de um Diploma. Com motivações diversas, o diploma trará dividendos em seus trabalhos ou agregarão pontos na hora de realizar um concurso. Seja qual for o motivo, quem se dispõe a passar seu tempo nos bancos escolares, muitos à noite, merecem meu respeito.
O problema é o que um Professor encontra hoje em suas salas de aula: alunos com sérias deficiências originadas nos anos anteriores à Faculdade. Muitos escrevem grosseiramente, não sabem se expressar de forma oral e/ou escrita, além de muitos outros pecados. É uma falha no processo do ensino que levou para o Ensino Superior as mazelas de Escolas mal preparadas para ensinar.
A meu ver, dois motivos muito contribuíram para isso. Primeiro, uma geração acomodada e mimada por pais que sofreram bastante durante um período de restrições e que não quiseram “criar traumas” na sua criação. O resultado é uma ninhada que sabe cobrar seus direitos, mas que não aprendeu quais são seus deveres.
A segunda razão é o Mercado que faz as escolas manter, a todo custo, seus Clientes-Alunos matriculados para sustentar a Empresa-Escola. Isso causa prejuízos. Soube que uma professora do Ensino Médio solicitou que seus alunos treinassem escrever nos “velhos” cadernos de caligrafia para melhorar a escrita. Revolta geral! A Direção mandou que ela esquecesse o assunto para não melindrar os alunos...
A calculadora não substituiu a necessidade de conhecermos a Tabuada e muitas práticas “tradicionais” ainda podem ser utilizadas sem muitas alterações. Porém, a visão do Alunos como um Cliente e não como um bom e velho Aluno deturpou boa parte do Ensino. Não se permite ao Professor “traumatizar” os Alunos. A Aula tem que ser um show para motivá-los. Um “Show da Xuxa”, talvez?
Correu na Internet que “a Faculdade é um trato entre a Direção e o Aluno para vender-lhe um Diploma e o Professor é o chato querendo atrapalhar o negócio”. Não se deve reprovar um Aluno das Escolas particulares com medo de perder um Cliente. Isso resulta na perigosa equação “eu finjo que te ensino e você passa nas provas = eu finjo que aprendi e pago a escola”.
Creio que no futuro próximo continuaremos a ter excelentes profissionais ocupando cargos importantes. Nada supera a competência e mesmo que o ensino seja deficiente a quantidade de bons profissionais continuará a surgir. Apesar de uma deturpação do processo ensino-aprendizagem, alguns resistirão à sanha dos incompetentes e buscarão superar as dificuldades em busca da excelência. Infelizmente também surgirá uma massa incompetente, com diploma universitário debaixo do braço, sendo entrevistada para dizer que não tem oportunidade de emprego, mascarando a realidade de que se foi “bom aluno”.
Soluções? Podemos apontar algumas. Óbvias ou não. Creio que a melhor é fazer com que todos os Alunos passem por um Exame dentro da sua carreira, semelhante ao Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): não interessa se você fez a Faculdade e se graduou como Bacharel em Direito. Caso não passe no Exame, você não poderá exercer a profissão.
Drástico? Talvez. Mas o País não pode esperar a crise de pessoas capacitadas para pensar no que vai fazer. Continuaremos a ver piadas de alunos escrevendo absurdos nos "Vestibulares", "Provões" e/ou semelhantes? Isso deveria envergonhar ao invés de servir como piada. É a falência do sistema de ensino que produz essas aberrações.
É preciso valorizar o Professor. Não só no dia 15 de outubro, mas em todos os dias do ano. Seguir o exemplo japonês que deu ao Professor status diferenciado e digno de respeito. É preciso repensar o Ensino Privado para que o vexame não seja cada vez mais público.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto