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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 5 de maio de 2012

Ensino Privado, vexame Público?


A tecnologia traz avanços para a Humanidade. Porém, nem tudo que proporciona é digno de nota. Ou melhor, alguns esquemas que surgem há anos em vários concursos vestibulares nos mostram o que são capazes de fazer alguns alunos em busca de uma boa nota nessas provas e os estelionatários dispostos a prestar esse “serviço”.
O intento pode ter sua origem na velha cobrança das famílias brasileiras de que o vestibular é o caminho natural para seus filhos quando terminam o Ensino Médio. A necessidade de aprovação pode gerar em alguns o medo do fracasso, a vergonha de decepcionar seus pais ou simplesmente refletir a incapacidade dele em poder lograr êxito sem um “jeitinho”.
Há muito tempo a necessidade de mais vagas para os Alunos que concluíam o antigo Curso Científico (depois Segundo Grau e agora Ensino Médio), demanda esta criada pelo compreensível aumento da população, gerou a necessidade de se complementarem as vagas oferecidas pelas Universidades Públicas com as vagas disponibilizadas pelas Instituições de Ensino particulares.
Contudo, a explosão que assistimos no número de vagas não foi acompanhada pela conseqüente manutenção dos padrões de ensino, onde expressões como “pagou, passou”  marcaram o Ensino Privado. Enquanto o Ensino Superior Público passou a ser um padrão de referência, o Ensino Privado ficou com a pecha, salvo honrosas exceções, de “inferior”.
Os dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso buscaram resgatar a qualidade do Ensino, sobretudo o Privado. As comissões do Ministério da Educação realmente assustaram seus dirigentes e possibilitaram um aumento da qualidade do ensino que proporcionavam. Muito do que se conseguiu em termos de melhoria, de uma forma ou de outra, cabem às iniciativas do Ministro Paulo Renato.
O Exame Nacional de Cursos – o Provão, visto com repulsa e rebeldia por muitos Alunos que, por isso, se recusaram a fazê-lo, foi uma tentativa de aferir a qualidade dos estudantes formados pelas Instituições Públicas e Particulares. Creio que quem não deve não teme e os que temeram o Provão ou não tinham qualidade suficiente para encará-lo ou então tinham motivos não educacionais para isso.
O fato é que o resgate do valor do diploma universitário tem levado muitas pessoas a ingressarem na Faculdades em busca de um Diploma. Com motivações diversas, o diploma trará dividendos em seus trabalhos ou agregarão pontos na hora de realizar um concurso. Seja qual for o motivo, quem se dispõe a passar seu tempo nos bancos escolares, muitos à noite, merecem meu respeito.
O problema é o que um Professor encontra hoje em suas salas de aula: alunos com sérias deficiências originadas nos anos anteriores à Faculdade. Muitos escrevem grosseiramente, não sabem se expressar de forma oral e/ou escrita, além de muitos outros pecados. É uma falha no processo do ensino que levou para o Ensino Superior as mazelas de Escolas mal preparadas para ensinar.
A meu ver, dois motivos muito contribuíram para isso. Primeiro, uma geração acomodada e mimada por pais que sofreram bastante durante um período de restrições e que não quiseram “criar traumas” na sua criação. O resultado é uma ninhada que sabe cobrar seus direitos, mas que não aprendeu quais são seus deveres.
A segunda razão é o Mercado que faz as escolas manter, a todo custo, seus Clientes-Alunos matriculados para sustentar a Empresa-Escola. Isso causa prejuízos. Soube que uma professora do Ensino Médio solicitou que seus alunos treinassem escrever nos “velhos” cadernos de caligrafia para melhorar a escrita. Revolta geral! A Direção mandou que ela esquecesse o assunto para não melindrar os alunos...
A calculadora não substituiu a necessidade de conhecermos a Tabuada e muitas práticas “tradicionais” ainda podem ser utilizadas sem muitas alterações. Porém, a visão do Alunos como um Cliente e não como um bom e velho Aluno deturpou boa parte do Ensino. Não se permite ao Professor “traumatizar” os Alunos. A Aula tem que ser um show para motivá-los. Um “Show da Xuxa”, talvez?
Correu na Internet que “a Faculdade é um trato entre a Direção e o Aluno para vender-lhe um Diploma e o Professor é o chato querendo atrapalhar o negócio”. Não se deve reprovar um Aluno das Escolas particulares com medo de perder um Cliente. Isso resulta na perigosa equação “eu finjo que te ensino e você passa nas provas = eu finjo que aprendi e pago a escola”.
Creio que no futuro próximo continuaremos a ter excelentes profissionais ocupando cargos importantes. Nada supera a competência e mesmo que o ensino seja deficiente a quantidade de bons profissionais continuará a surgir. Apesar de uma deturpação do processo ensino-aprendizagem, alguns resistirão à sanha dos incompetentes e buscarão superar as dificuldades em busca da excelência. Infelizmente também surgirá uma massa incompetente, com diploma universitário debaixo do braço, sendo entrevistada para dizer que não tem oportunidade de emprego, mascarando a realidade de que se foi “bom aluno”.
Soluções? Podemos apontar algumas. Óbvias ou não. Creio que a melhor é fazer com que todos os Alunos passem por um Exame dentro da sua carreira, semelhante ao Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): não interessa se você fez a Faculdade e se graduou como Bacharel em Direito. Caso não passe no Exame, você não poderá exercer a profissão.
Drástico? Talvez. Mas o País não pode esperar a crise de pessoas capacitadas para pensar no que vai fazer. Continuaremos a ver piadas de alunos escrevendo absurdos nos "Vestibulares", "Provões" e/ou semelhantes? Isso deveria envergonhar ao invés de servir como piada. É a falência do sistema de ensino que produz essas aberrações.
É preciso valorizar o Professor. Não só no dia 15 de outubro, mas em todos os dias do ano. Seguir o exemplo japonês que deu ao Professor status diferenciado e digno de respeito. É preciso repensar o Ensino Privado para que o vexame não seja cada vez mais público.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto

5 comentários:

  1. O artigo traz uma análise acerca da qualidade do ensino nas IES (Instituições de Ensino Superior), destacando o aumento do número de vagas e a relação comercial estabelecida entre a instituição acadêmica e o aluno. É um texto verdadeiramente instigante!

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  2. Parabéns ao autor pela postagem. Muito interessante. Embora muitos de meus colegas sejam contra exames (como o da OAB), eu sou a favor e vou até um pouco mais além. Penso que deveria ser periódico. Se você se formou para ser engenheiro civil, por exemplo, espera-se que saiba o que precisa saber para exercer a profissão não só agora, mas para sempre. Então, por que não fazer um exame a cada 5, 6 ou 8 anos? Eu não me importaria em passar por um exame desses. E você? ;-)

    Grande abraço
    Luís Cláudio LA

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  3. Vejo que certamente processos de avaliação contínua constituem um dos meios potenciais para auxiliar no estabelecimento da excelência profissional em todas as áreas de conhecimento. Por outro lado, certamente também a necessária competência para elaboração, implantação, coordenação e execução desses processos há de ser cuidadosamente avaliada e considerada.

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  4. Vejo muitos de vocês, professores, reclamarem da educação e no final da discussão colocarem a culpa no aluno ou nas metodologias anteriores adotadas, mas continuam ministrando suas aulas sem nenhuma criatividade.

    Os problemas que temos hoje já são mais que antigos, não começaram ontem e não é culpa de uma única geração. Da mesma forma que existe bons alunos hoje, existem bons professores, e, infelizmente, na mesma proporção.

    O comércio de diplomas é um fato, sistema que é alimentado por todos nós, mesmo que indiretamente.

    Não precisamos de pessoas que nos passem informação, isso já temos na internet ou em livros na biblioteca; precisamos de pessoas que amam ensinar e que traduzam este conhecimento através do tempo, que tenham compromisso de serem professores, em quebrar fronteiras, regras se preciso, em mudar vidas com o seu conhecimento sem a preocupação de apenas aplicar as regras.

    Talvez, por este compromisso, no Japão, onde morei por 8 anos, o professor tenha o respeito e admiração de toda sociedade.

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  5. Prezado Michel,

    Obrigado por participar. Sua opinião é importante e merecedora de reflexão. Convido-o a compartilhar neste espaço sua experiência vivida no Japão, comparando os sistemas de ensino brasileiro e japonês, e concluindo acerca das principais diferenças.

    Um fraterno abraço.

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