Este é um espaço livre para conversarmos sobre o Ensino Superior no Brasil e no mundo. Gostaria de apresentar-lhe algumas reflexões sobre o assunto e, principalmente, conhecer as suas. Participe por meio de postagens e comentários. Seja bem-vindo.

Ensino Superior no Brasil e no Mundo

domingo, 1 de setembro de 2013

Trabalho final de conclusão de curso?




O trabalho de conclusão de curso (TCC), eventualmente também chamado  de trabalho de graduação interdisciplinartrabalho final de graduaçãoprojeto de formatura ou projeto experimental, com suas respectivas siglas, é um tipo de trabalho acadêmico amplamente utilizado no ensino superior no Brasil. Em geral, constitui-se o mecanismo principal de efetuar-se uma última avaliação dos graduandos. Professores orientadores usualmente recomendam aos alunos que o tema escolhido para o TCC pertença a um assunto com o qual o aluno já possua afinidade, pois o aluno provavelmente vai  passar seis meses ou mais escrevendo sobre esse tema.

Também entende-se que o TCC pode dar ao aluno a última oportunidade de por em prática os conhecimentos teóricos multidisciplinares, advindos de sua formação nos bancos escolares, para a solução de um problema (teórico, prático, científico, tecnológico, filosófico, etc.) a ser identificado e solucionado nesse trabalho. A solução, a depender da área de conhecimento, pode variar desde a apresentação de estudos de caso até a construção de um protótipo de um equipamento eletrônico, por exemplo. O aluno deve então, durante a execução do TCC, sentir-se em pleno desempenho de seu papel perante a sociedade. É, assim, um evento ímpar e, sobretudo, de fundamental importância na tentativa de assegurar que o egresso tenha obtido, además de um embasamento teórico devido, também uma capacitação profissional durante o período em que esteve vinculado à sua Instituição de Ensino Superior (IES).

De forma conservadora, a orientaçao geral é que o TCC deve ser realizado somente após o aluno já ter concluído  a maioria (p.ex., 75% do total)  ou todas as disciplinas obrigatórias de seu curso. Essa regra pode variar, em termos de quantitativo, em função da IES em que o aluno esteja matriculado. Essa condição de cumprimento mínimo de disciplinas, em tese, visa principalmente a assegurar que o aluno já tenha o embasamento teórico mínimo para um eficiente desempenho de atividades profisionais práticas. Vale também dizer que existem IES que permitem ao aluno eleger entre: realizar um estágio obrigatório, com viés mais dedicado a atividades profissionalizantes, em substituição ao TCC; realizar o estágio obrigatório e também o TCC; ou realizar apenas o TCC. 

Para a execução propriamente dita do TCC, podem ser considerados os passos mencionados a seguir. Primeiro, definir o tema. Nessa etapa, é mister conversar com professores e até colegas de curso. Como mencionado no primeiro parágrafo, é importante dar preferência a um assunto com o qual já se tenha algum apreço. Segundo, escolhido o tema, deve-se encontrar ou pensar na formulação de um problema referente ao assunto que será abordado. Terceiro, escolher o orientador. É importante levar em conta a especialização do professor naquela área em que se encaixa o tema do trabalho. Quarto, realizar as pesquisas. Esse é o momento de revisar a literatura e adquirir material bibliográfico suficiente para embasar e justificar as eventuais soluções atingidas para o problema originalmente apresentado. Por último, escrever e apresentar o TCC. Nessa última etapa, se faz necessária especial atenção às regras formais da IES em que o aluno está matriculado.


Apesar de sua importância, vez por outra, o TCC tem sua existência posta em cheque, ainda que de maneira incipiente, informal e usualmente por pessoas de pouca consciência sobre a abrangência da questão. Aqueles que assim procedem usualmente embasam suas ideias no argumento de que as disciplinas do curso já deveriam garantir o que o TCC se propõe a ofertar: uma oportunidade de por em prática conhecimentos multidisciplinares para a resolução de um problema. Nessa perspectiva, por exemplo, poderia existir um trabalho final em cada fim de semestre, que considerasse conhecimentos obtidos em todas as disciplinas cursadas naquele semestre. Argumentam ainda que a realização do TCC por vezes dificulta e retarda a contratação do graduando, impedindo assim que uma mão de obra qualificada chegue mais tempestivamente ao mercado. Será? Não, realmente não penso assim.

O TCC é um elemento de avaliação do Ensino Superior e como tal tem, na essência de sua definição e implementação, um nível de dificuldade muito maior, por exemplo, que um possível trabalho a ser realizado em uma única disciplina de um dado curso, mesmo quando esteja encampando conhecimentos relacionados a todas as disciplinas de um mesmo semestre de um dado curso, conforme alguns sugerem. Talvez a natureza desse equívoco seja confundir Ensino Superior com Ensino Médio, ou com Ensino Profissionalizante ou, ainda, com Ensino Técnico. Aquele que se dispõe  a realizar um curso de Ensino Superior deve estar pronto para lidar com problemas de complexidade maior e diferenciada. Todos os envolvidos devem ter a consciência de que mais tempo, mais dedicação, mais sacrifícos e maior comprometimento serão exigidos. 


Relacionado a esse mesmo contexto mas de forma mais ampla, até preocupo-me e surpreendo-me quando leio colunas e reportagens revestidas com a sublime intenção de acelerar a obtenção de uma mão de obra mais qualificada e especializada. Para mim as ideias externadas não passam de ilusão. Talvez seus idealizadores sejam ingênuos, para não pensar o pior. Orgulhosamente são explicadas soluções milagrosas (e rápidas) aos problemas relacionados à escassez de conhecimento especializado no Brasil. As discussões permeiam desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior. A verdade, no entanto, é que a formação de mão de obra qualificada e especializada é intrinsicamente um processo que exige, sobretudo, o investimento de tempo. Os resultados somente aparecem a longo prazo. Não há atalhos, tampouco solucões milagrosas. Essa é a realidade. 




Escrito por: Prof. Carlo Kleber da Silva Rodrigues