Este é um espaço livre para conversarmos sobre o Ensino Superior no Brasil e no mundo. Gostaria de apresentar-lhe algumas reflexões sobre o assunto e, principalmente, conhecer as suas. Participe por meio de postagens e comentários. Seja bem-vindo.

Ensino Superior no Brasil e no Mundo

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Conselhos Profissionais: Certificação ou Exclusão?


Os conselhos de classe funcionam como fiscais dos formados em algumas profissões. Creio que a Ordem dos Advogados do Brasil seja muito conhecida, muito em função do famoso Exame da Ordem, e seu processo seletivo visto como um fator de qualidade face aos diversos profissionais formados. Passar de bacharéis em Direito em advogados é algo que tira o sono de vários formados pelo Brasil.

Notei, pessoalmente, a preocupação de muitos alunos de cursos de Ciências Contábeis também com a preocupação dos seus exames. Muitos alunos só “acordam” para a realidade quando se aproximam dessa fase. Comentários de alguns professores me levaram a crer que muitos alunos só encaram com seriedade o curso quando “despertam” para a prova. Tal não deveria ser mas, na prática, isso ocorre muito.

Existem muitas profissões sem Conselhos. A maioria não certifica seus formandos. Na prática, o desempenho fica por conta da famosa lei da oferta e da procura. O cliente procurará pelos melhores, diferenciará os capazes dos menos capazes. Embora seja muito darwinista, este processo tem sua lógica. Afinal, ninguém escolhe um time para uma “pelada” de fim de semana começando pelos piores, não?

Só comecei a pensar na prática dos Conselhos quando estava no cinema e ouvi alguém comentando sobre a Ordem dos Amigos dos Bandidos. O distinto cidadão tecia enormes críticas a essa Ordem, principalmente pelo fato de aparecer muito profissional junto a bandidos postos na notoriedade pela mídia. É claro que toda pessoa tem direito à sua defesa. Isto é uma condição indiscutível.

Vários advogados iam às cadeias em busca de presos políticos, não criminosos, durante o Regime Militar. Essa visão do advogado acabou, infelizmente, se distorcendo na mente de muitos cidadãos. Assim, parece apenas que advogado apenas “defende bandido”. Sabemos que não é assim, mas isso existe. Sabemos também ser muito difícil retirar de circulação os estereótipos muito enraizados.

Outra questão é o certificado que o exame fornece. Muito se falou de prós e contras. Amigos que passaram pelo exame disseram-me que ele cobra o básico do que se ministrou no curso. Não haveria um “bicho-de-sete-cabeças”, mas apenas o que todos deveriam saber. Mas aí a dúvida: quem certifica o curso, o Conselho ou o Ministério da Educação?

Novamente caímos na conclusão óbvia que a educação no Brasil está ruim. Um Conselho testa o que o MEC reconheceu como válido. O bacharel em Ciências Contábeis só é contador depois de uma prova, assim como o bacharel em Direito vira advogado depois de uma prova também. O Brasil vai na contramão do desenvolvimento por necessitar de certificados quando o governo é que seria a grande agência certificadora.

Acredito que um processo só é válido quando o aluno é testado ao longo dele. Creio que uma prova em si não mede, apenas verifica se o aluno sabe fazer uma prova. Assim como o vestibular evoluiu e surgiram o PAS e o ENEM, creio que o MEC poderia, ao invés de se render a esses exames de ordem, exigir maiores desempenhos dos alunos. Fazer como em países que encararam o desafio e, como na Coréia do Sul, elevaram as notas para aprovação.

Uma ex-aluna minha me disse que os coreanos, para aprovação nas disciplinas, precisam tirar, pelo menos, a nota nove. Eles justificariam essa prática dizendo que quem tira nove não domina dez por cento do conteúdo. Assim, um profissional brasileiro com média cinco na faculdade atesta que não sabe metade do conteúdo. Será que aceitaríamos um cirurgião que não sabe metade do que fazer em uma mesa de operação?

Fica o desafio às instituições de ensino superior. Será que elas teriam essa coragem? Será que modificariam suas práticas, a começar por melhores, mais capacitados, melhor remunerados e prestigiados professores? Será que o MEC reconheceria que a educação fundamental e a educação média são um horror, provados pelos exames PISA da vida? Ou o Soletrando do Luciano Huck? Será que as faculdades aceitariam ou sobreviveriam com esse nível de exigência?

Certa vez o presidente Lugo, do Uruguai, disse que só modificamos uma questão muito sensível a partir de soluções inovadoras. Não se modificaria o panorama da maconha com medidas já testadas e fracassadas, precisariam de algo novo. Acho que aqui também precisamos de algo radical, novo, não visto antes (pelo menos aqui). O choque causará tsunâmis (não “marolinhas”). Os melhores ficarão.


E aos perdedores? As batatas, como diria Machado de Assis. Ou um bolsa-fracassado.

Professor e Educador Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )