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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

domingo, 1 de novembro de 2015

Valores extra-sala de aula





O Conselho Federal de Medicina (CFM) baixou uma norma proibindo a realização de fotos pessoais (o famoso selfie) por médicos no exercício da profissão. Ou seja: no trabalho, não pode se fotografar. O caso teria origem em fotos divulgadas por médicos nas redes sociais. Um médico na unidade de Planaltina, no Distrito Federal, teria um selfie enquanto pessoas esperavam atendimento.

Confúcio diria que “tudo isso seria cômico se não fosse trágico”. Acredito ser um absurdo que um órgão como o CFM deva se debruçar sobre uma conduta que não tenha nada a ver com procedimentos de conduta médica em ambiente de trabalho. O caso em questão vai além do hospital, ambulatório ou posto de saúde: é um caso de valores humanos.

O juramento de Hipócrates, o qual os médicos, por tradição, repetem ao final de sua graduação, tem milênios d existência. É tão importante que permanece atual até o século XXI. Podemos encontra-lo, por exemplo, no site do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo: (https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Historia&esc=3):

Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:
Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.
A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substãncia abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.

Bastaria cada um dos médicos em questão se aterem aos valores, não aos modismos, inclusos na fórmula de Hipócrates. O sábio grego colocou os valores do próximo ao alcance do profissional. Nada mais contrário ao seu juramento do que colocar a si próprio como protagonista de sua própria profissão, não os seus pacientes.

      Este é mais um dos problemas da crise de valores nascida no seuio da sociedade, em geral, e na família, em particular. Discute-se o que é família. Discute-se o que é casamento. Discute-se o que é ou não é politicamente correto. Não se discute o que é o certo e o que é errado, universalmente.

A sociedade, e seus profissionais, formam-se com muitos conhecimentos, mas poucos valores. A revolução dos valores é uma necessidade que se impõe à barbárie dos selfies médicos (ou de qualquer profissão).


Escrito por: Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )