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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ciência, Tecnologia e...Diploma?


Segundo Michel Blay, a ciência é o conhecimento claro e evidente de algo, fundado quer sobre princípios evidentes e demonstrações, quer sobre raciocínios experimentais, ou ainda sobre a análise das sociedades e dos fatos humanosEssa definição permite distinguir os três tipos de ciência: as ciências formais, compreendendo a Matemática e as ciências afins, como a estatística; as ciências físico-químicas e experimentais (ciências da natureza e da terra como a física, química, biologia, medicina); e as ciências sociais, que ocupam-se, por exemplo, do homem, de sua história, do seu comportamento, da língua, do social, do psicológico e da política.
         
             A tecnologia, por sua vez, pode ser vista como o encontro da ciência com a engenharia. Inclui desde as ferramentas e os processos mais simples, tais como uma colher de madeira e a fermentação da uva, até as ferramentas e os processos mais complexos já criados pelo ser humano, tal como a dessalinização da água do mar. Frequentemente, a tecnologia entra em conflito com algumas preocupações naturais de nossa sociedade, como o desemprego, a poluição e outras questões ecológicas, assim como filosóficas e sociológicas, já que tecnologia é uma atividade que pode formar ou modificar a própria cultura de uma sociedade.
         Ciência e Tecnologia têm sido recorrentemente consideradas pilares indispensáveis para o desenvolvimento pleno de qualquer nação globalizada, incluindo-se aí naturalmente o Brasil. Tomando-se esse ponto como pacífico, a questão que segue é então como obter-se Ciência e Tecnologia.
              Observando o cenário reinante no Brasil, receio que a resposta mais aceita, infelizmente, tem sido criar o maior número possível de Instituições de Ensino Superior (IES). Acredita-se que, assim, um maior número de cidadãos terão acesso ao ensino de nível superior e, consequentemente, a nação passará a ter mais Ciência e Tecnologia. Em outras palavras, a nova ordem é dotar o cidadão brasileiro com  um Diploma de Ensino Superior. No entanto, a verdade, considerando a conjuntura do país, não ajuda em absoluto a corroborar essa filosofia.
        Por exemplo, as estatísticas mais recentes do  Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) mostraram que três em cada dez cursos de nível superior avaliados tiveram notas abaixo da média. Além disso, as IES estão cada vez mais sobrecarregadas pela quantidade de solicitações feitas pelo governo federal. Os ministérios têm elaborado programas que dependem da ajuda delas para serem executados, baseados nas três frentes de trabalho que formam os pilares das universidades brasileiras: ensino, pesquisa e extensão. É verdade que nunca tantos brasileiros chegaram às salas de aula das universidades, fizeram pós-graduação ou MBAs. Mas, ao mesmo tempo, não só as empresas reclamam da oferta e qualidade da mão-de-obra no país, como os índices de produtividade do trabalhador custam a aumentar. 
            Ainda, some-se ao cenário descrito o fato de que existe uma grande diferença filosófica do que é um curso de ensino superior nas IES brasileiras e em outras IES reconhecidamente aceitas como as melhores do mundo. Isso tornou-se nítido quando estudantes brasileiros de graduação foram para universidades de ponta pelo programa Ciência sem Fronteiras. A maioria desses alunos conta, por exemplo, que estranhou a quantidade reduzida de disciplinas das instituições dos países estrangeiros. Um estudante universitário de uma escola como a Universidade de Harvard, nos EUA, considerada a melhor do mundo, tem em média 15 horas/aula por semana. Para se ter ideia do que isso significa, quem faz engenharia na Poli-USP tem quase três vezes mais aulas. A filosofia de universidades como Harvard é que cada hora de aula demanda, em média, uma hora extra de estudos e de leituras do aluno. Ou seja, as 15 horas viram 30 horas.
        Em uma análise realista, apesar dos reconhecidos esforços que estão sendo feitos pelo governo federal, parece urgente aceitar que, para alcançar-se Ciência e Tecnologia de verdade, o país precisaria, pelo menos, também: (i) reformular os programas das IES já existentes, no sentido de, principalmente, atualizar currículos para atender aos reais propósitos de um ensino superior de qualidade; (ii) investir e valorizar a formação de nível técnico, pois é ilusório crer que todos os cidadãos irão (ou até mesmo queiram) cursar o Ensino Superior; (iii) utilizar sistemas de avaliação mais focados em resultados e menos em políticas socias; e, por fim, (iv) entender e fazer a população entender que um diploma de ensino superior isoladamente não traz Ciência e Tecnologia para o país, estas somente são genuinamente conseguidas quando se dispõe de profissionais bem formados e motivados em todos os níveis de profundidade de conhecimento 

Que Deus nos faça felizes!
Escrito por: Prof. Carlo Kleber da Silva Rodrigues.