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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 8 de dezembro de 2012

Estamos preparando nossos filhos para o Futuro?





Certa vez um amigo meu estava reclamando de seu excesso de tarefas no trabalho e seu pouco tempo para dar conta de tudo. Comentou que, todos os dias, tinha uma série de reuniões para participar, vários documentos para ler e analisar, além de um grande número de decisões para tomar.

Em meio à falta de tempo, lembrou com saudades e certa inveja de seu velho pai. Gaúcho do interior, criado nas lides do campo, era analfabeto. Contudo, após uma semana de trabalho árduo, seu fim de semana eram as corridas de cavalo (as carreiras) e o jogo do osso, típico dos rincões das fronteiras meridionais.

É claro que uma vida simples leva a condutas simples. Decerto o velho pai do meu amigo não perdia seu tempo em reuniões, não tinha documentos para ler (pois não o podia) e suas decisões se restringiam a qual cavalo ia ganhar ou qual face do osso ia cair para cima.

É claro que o pai do meu amigo tinha uma visão muito simplista do mundo. Suas necessidades eram naturais, quase primitivas: comer, dormir, ganhar o pão e se divertir. Nada mais. Seu mundo era o torrão natal. Sua realidade era o dia a dia campesino, horizonte fixado em algumas coxilhas adiante. Restrito. Acanhado até.

O mundo, porém, abrange várias coxilhas. Passa por muitas serras e montanhas, toma espaço por rios, lagos e oceanos. O mundo conhecido não se fecha em torno de meia dúzia de coxilhas, mas está ao alcance de um clique de mouse.

Não podemos esperar que nossos filhos olhem para o mundo de uma forma restrita. O mundo está cada vez mais complexo e competitivo. A tecnologia impõe cada vez mais a necessidade de conhecer, de pesquisar, de estudar e aprender. Antigamente podíamos viver com umas poucas informações por toda a vida. Isso não é mais possível.

A par disso, nossos filhos devem ser capazes de possuir a vontade de vencer num mundo cada vez mais competitivo. As capacidades de cada um serão exploradas. E mais: não bastará só conhecimento. Será preciso uma força de vontade muito grande para aceitar a competição e não ficar para trás.

O ator Juca de Oliveira, em uma entrevista ao programa de José Luís Datena (no Coração do Brasil), por ocasião do aniversário da capital paulista em 2009, falou que São Paulo é uma cidade que dá a todos uma oportunidade. Porém, cada dia você tem que provar que é bom, pois existem vários querendo ser melhores que você.
Um médico amigo meu corroborou esse comentário. Estávamos os dois sentados no saguão do aeroporto de Congonhas, no coração da paulicéia, quando ele me contou que morara em São Paulo. Falou que sua carreira teve um impulso muito grande ao trabalhar nas terras paulistanas. Contudo, sentiu na pele o preço da competitividade existente na maior cidade da América Latina.
Não sei se nossos filhos morarão todos em São Paulo. Não sei se eles precisarão palmilhar as marginais do Tietê e do rio Pinheiros, bandeirantes do asfalto e dos engarrafamentos da maior cidade do Brasil. Mas sei que eles herdarão, além da terra, um mundo em constante transformação, em evolução constante.

Nossa principal tarefa é dar a eles as condições de se inserir nesse mundo em luta, onde a sobrevivência não será do mais forte, mas sim do mais apto. Eles, que nasceram na Era Digital, que sabem manejar com desenvoltura o controle remoto, as máquinas digitais, navegam pelas ondas da Internet e se comunicam além fronteiras, terão para eles um mundo do tamanho dessa nova Era.

Esperemos que eles estejam preparados para os desafios que esse mundo lhes reserva. Esperemos que o nosso dever de casa seja feito de modo a dotá-los das competências necessárias para que eles sobrevivam na Selva Digital. Só teremos espaço para um novo Tarzã na forma virtual, como num jogo. A competição é real.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Ultrapassando as fronteiras




Em quatro anos o programa Ciência sem Fronteiras vai dar a 100.000 pesquisadores brasileiros bolsas de estudos em faculdades e institutos de pesquisa de destaque mundial em Ciência e Tecnologia. Mais de 14.000 alunos de graduação e pós-graduação já se encontram em campi de instituições de significativo prestígio na Alemanha, Coreia do Sul, EUA, Holanda, França, Áustria, Inglaterra e em mais três dezenas de outros países. 

Esses e muitos outros dados relacionados ao programa Ciência sem Fronteiras foram evidenciados na  edição nº 2294 da revista VEJA, de 07/11/12. Além disso, considerando também informações provenientes de outros veículos de notícia, opiniões de especialistas e, por fim, a minha própria experiência por ter tido um de meus orientandos selecionado para o programa em tela, não posso deixar de expressar meu entusiasmo e verdadeira alegria por saber que o nosso país está no caminho correto: investir em educação.

Meu entusiasmo, no entanto, não de deve somente aos números positivos e empolgantes que são trazidos a público. Não que esses números não sejam importantes. Tampouco se deve a visões megalomaníacas externadas por determinados setores de nossa sociedade, os quais insistem em afirmar que nosso país logo se tornará a maior potência mundial em Ciência e Tecnologia de todos os tempos.       

Meu entusiamo se justifica mais pela postura que se observa na execução do programa. Erros que foram cometidos em seu estágio inicial estão sendo corrigidos e foram reconhecidos pelos executores do programa, demonstrando a seriedade e a humildade necessária para um amadurecimento do processo em si. O tempo mínimo de permanência no exterior passou para um ano, as bolsas não mais sofrerão atrasos de pagamento, as parcerias com as universidades estrangeiras foram formalmente seladas, já há um órgão especializado em intercâmbios acadêmicos de cada país que cuida da distribuição dos alunos pelas universidades, com base numa lista de opções assinaladas pelos estudantes. Essas foram algumas das medidas e correções já tomadas.

No entanto, é verdade que também há setores de nossa sociedade que não acreditam no programa e afirmam ser um desperdício de recursos financeiros. Argumentam, principalmente, que poderíamos ter uma formação de excelência dentro do nosso próprio país. Respeito o pensamento, mas não vejo assim.  O mundo está cada vez mais globalizado e a competição não é mais local. A competição é mundial. Fechar-se, mesmo tendo condições de prover uma formação de excelência em algumas áreas de conhecimento, significa estagnar-se. Sozinhos, não chegaremos a lugar algum, com parceiros certos, chegaremos onde desejarmos. A ordem natural é então estabelecer parcerias. A preocupação nesse contexto deve ser saber escolher corretamente os parceiros.

Então está tudo perfeito? Não, claro que não. Nada é perenemente perfeito. O aperfeiçoamento do processo é uma atividade contínua. Temos sempre de acompanhar, fiscalizar, opinar, debater e corrigir. Por exemplo, uma preocupação que tenho - e sobre a qual ainda não li ou vi nada formal a respeito - relaciona-se à volta do contingente que está no exterior. Para onde serão enviados os nosso estudantes e pesquisadores após o seu regresso. Haverá empresas, faculdades, universidades e/ou centros de pesquisa suficientes para dignamente absorvê-los?

Ressalto que dignamente significa com salários atrativos e estrutura adequada para que possam continuar seus projetos,  pesquisas e  trabalhos. Caso contrário, será natural que esse contingente não queira ser repatriado. Não adianta dizer que seria uma ingratidão ou uma traição. Isso é a realidade. Todos somos assim: precisamos de reconhecimento e valorização para aceitarmos desafios. É preciso pensar seriamente sobre isso, principalmente fazendo-se uso do conceito da meritocracia.

Ademais, não faz mal lembrar que o programa Ciência sem Fronteiras não pode e nem deve ser visto como um processo isolado, independente. Na verdade, é parte integrante do abrangente sistema de ensino brasileiro, em que se consideram concomitantemente as formações adquiridas nos ensinos fundamental, médio e superior. Portanto,  seu êxito pleno depende notadamente da análise e solução conjunta das deficiências e problemas ainda existentes nessas formações.

Em síntese, estamos no caminho correto. É preciso continuar investindo de forma inteligente e meritocrática na educação. Acreditemos no futuro promissor que nos espera. Um futuro em que podemos ser um dos protagonistas em Ciência e Tecnologia da aldeia global que se forma. Isso certamente nos ajudará a alcançar o desenvolvimento, em todas as suas vertentes, que o nosso país tanto aspira.

Escrito por: Prof. Carlo Kleber Rodrigues