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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

domingo, 5 de agosto de 2012

O Ensino Superior e as três Pirâmides

Ao nascermos é comum nossos pais profetizarem que seremos doutores, felizes e muito ricos. Essa profecia termina se instalando em nossas mentes, nos acompanha em nossa infância, adolescência, fase adulta e, por vezes, na melhor idade. Quase que sempre, mesmo que inconscientemente, também acabamos profetizando o mesmo para os nossos filhos. Com essa constatação, pergunto-me se esse comportamento é de fato o mais acertado que podemos ter ao imaginarmos uma nação verdadeiramente sadia. Não bastaria que nossos filhos fossem apenas felizes? Por que a necessidade de se ter riqueza e um curso de doutorado?








Permitam-me chamar esse cenário de Conflito das três Pirâmides. A primeira é a Pirâmide Econômica. Ela estabelece o nível de ascensão econômica que possuímos. A segunda é a Pirâmide Intelectual. Essa nos diz qual o nível de profundidade de conhecimento que realmente desejamos ter. A última se chama Pirâmide Psicossocial, que nos remete a aspectos mais abrangentes acerca da vida em si como, por exemplo, família, lazer, saúde, autoestima e amizade. Diria que essa última é a que está mais intrinsecamente relacionada à capacidade de  sermos felizes. Certamente é a que deveria primordialmente guiar as nossas escolhas. A solução para esse conflito é deveras complexa, pois envolve ao menos quatro entidades especiais: o aluno, a família, a IES e o próprio Estado.

O aluno porque corre o risco de optar por frequentar a escola, especialmente as Instituições de Ensino Superior  (IES), na inocente crença de que um diploma de curso bastará para  o cumprimento da profecia: será doutor, rico e feliz. Ledo engano. Profissionais com nível de educação superior que não ocupam cargos de liderança não tiveram valorização salarial entre 2003 e 2010. É o que aponta a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que comparou o aumento salarial dos profissionais com ensino superior (0,3%) e a média salarial no país (19%) no período citado. Esses dados precisam ser divulgados amplamente para permitir uma conscientização maior sobre essa questão. A escolha por frequentar o Ensino Superior somente pode ser feita após uma exame profundo da Pirâmide Psicossocial.

A família, sem generalizar, porque muitas vezes adota uma postura que induz seus filhos, que serão os futuros alunos das IES, a terem o comportamento indevido de associar o conceito de riqueza e felicidade à condição de serem doutores em alguma área de conhecimento, não importando qual. A família deveria ter o entendimento de que a escolha profissional é totalmente individual, cabendo exclusivamente ao filho. Caberia à família, tão somente, o suporte para que essa escolha fosse a mais acertada possível, considerando, primeiramente, a Pirâmide Psicossocial para, somente então, passar a considerar as Pirâmides Econômica e Intelectual.

A IES porque não pode perceber esse cenário de conflito como uma oportunidade para o seu próprio engrandecimento, especialmente quando trata-se do aspecto financeiro. A missão da IES é promover, de forma sempre nobre, a educação. A IES não pode seguir um modelo pedagógico estático e/ou único. Deve dinamicamente buscar atender às necessidades correntes da sociedade. Infelizmente, essa não é uma realidade absoluta.  Inúmeras reportagens já foram veiculadas na mídia, por exemplo, sobre diplomas falsificados bem como IES que não possuem as condições mínimas necessárias para o funcionamento regular dos cursos oferecidos. A constatação atual é que a qualidade das IES vem caindo vertiginosamente.


Por último, o Estado porque não pode ceder às pressões provenientes de organismos internacionais que o impelem a alcançar estatísticas no setor educacional ditas ideais. Recentemente, foi divulgado que a meta é alcançarmos 10 milhões de alunos matriculados em IES até 2015. Isso levará o país a possuir a marca de 50% dos jovens, entre 18 e 25 anos, no Ensino Superior. Para consecução dessa meta será necessária a inclusão de mais quatro milhões de alunos nos próximos quatro anos.  Estima-se que cerca de 75% desse total será absorvido por IES particulares e o restante por IES públicas. Pergunto-me se realmente o país precisa desse número? Não existiriam cursos de nível técnico tão importantes quanto, ou até mais importantes, que mereceriam um estímulo semelhante? O Estado precisa obviamente criar políticas sérias que objetivem o desenvolvimento do país, mas não pode esquecer-se que uma sociedade é formada por pessoas e não por robôs programados para este ou aquele fim.








Em conclusão, a resolução do Conflito das três Pirâmides certamente fará do nosso país uma nação que, talvez, não seja a mais desenvolvida, a mais rica, nem a mais povoada por doutores, mas certamente será uma das mais sadias e, sobretudo, felizes.


Que Deus, como quer que você o imagine, te faça sempre feliz.


Escrito por:  prof. Carlo Kleber.

2 comentários:

  1. O texto busca uma reflexão acerca dos elementos que são realmente importantes para a consecução de uma formação intelectual verdadeiramente sadia.

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