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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 10 de março de 2012

A fábula do estudante de Direito

Certa vez vi um automóvel estacionado em uma vaga destinada a portadores de necessidades especiais. Claro que não era a primeira vez que eu me deparava com uma cena dessas. No Brasil terra onde o desrespeito à lei é uma lei que é realmente seguida à risca, o fato pode até ser chamado de usual ou banal.

O fato que me chamou a atenção não foi a cena em si, mas sim um único aspecto: eu conhecia o condutor do veículo. Pertencia a um estudante de um curso de Direito. Isso mesmo: um futuro operador do Direito que deveria ser um escravo das leis (para sermos livres, como dizia Cícero) era um daqueles que jogava o Código Nacional de Trânsito para debaixo do tapete.

O currículo de qualquer curso de Direito, que faça jus a esse nome, possui uma disciplina ligada à Ética. Aristóteles dedicou seu livro sobre o assunto ao seu próprio pai, Nicômaco, médico como ele. O filósofo grego serviu de base e ponto de partida para muitos assuntos. Talvez esse estudante devesse lê-lo, entendendo o teor dos seus ensinamentos e não só fazer prova sobre ele.

Homens são motivados por aquilo que acreditam. Um monge budista é motivado pelos ensinamentos de um homem que foi Buda (iluminado) em sua vida. Isto o torna capaz de operar prodígios de uma grandeza extrema. Também para um homem-bomba fundamentalista a crença nos ensinamentos recitados (Corão) pode motivá-los a tomar uma atitude extrema, dessa vez de uma profundidade abissal.

A formação das pessoas passa pela formação do seu caráter. Platão (outro filósofo grego) dizia que deveríamos educar as crianças para não ter que castigar os homens. Há muitos séculos ele estava certo. Educar é a resposta para muitos dos flagelos da Humanidade.

É claro que não esperamos que apenas a educação seja capaz de ser a panaceia que curará todos os males do ser humano. É claro que sabemos que mesmo os países que possuem alto índice de educação, de desenvolvimento humano e outros padrões de referência (e de excelência) possuem roubos, sequestros, enfim, problemas que afligem também a nós tupiniquins. O que os diferencia de nós são os baixos índices (não os altos agora) do lado B da sociedade.

Talvez a nossa má educação não seja capaz de tornar uma pessoa um mau elemento. Talvez uma educação deficiente não possa tirar afastar o cidadão de bem de um iletrado. Talvez ele não desrespeite a lei mesmo sabendo que não possui muitas ferramentas para compreender sua formação, concepção e aplicação. Talvez não. Ainda resta esperança.

Porém, os recalcitrantes e descumpridores da lei poderão ser flagrados, intimados e levados a julgamento. Talvez sejam justamente tratados sob o manto da lei. Talvez possam receber tratamento justo pelo delito que cometeram. Talvez possam ser tratados dentro dos parâmetros legais e, mais ainda, com justiça.

Tudo isso pode acontecer, é perfeitamente viável e previsível. Mas podem também se deparar com um advogado ou juiz que eu já vi. Sim, aquele mesmo que eu vi desrespeitar a lei ao tomar a vaga de um portador de necessidades especiais, ao se apropriar indevidamente de um direito que a lei lhe garantia. Talvez seja mais fácil que isso aconteça.

Escrito por: Prof. Luiz Augusto

3 comentários:

  1. Muito instigante. Em minha opinião, o texto traz à tona a necessidade de uma reflexão ampla sobre a formação
    holística dos alunos de Ensino Superior. Busca fazer com que
    todos os envolvidos (diretores, professores, alunos, pais, Estado...), e considerando
    todos os Cursos de Ensino Superior, atentem para a responsabilidade da
    formação que tenciona-se adquirir, a qual inicia-se muito antes da obtenção do próprio diploma.

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  2. Concordo 100% com seu comentário Carlo Kleber, ótima publicação.

    A melhor parte do aprendizado com certeza é a reflexão. Fornecer o sentido para mudança é uma vitória árdua da transformação do indivíduo, poder adquirido e responsabilidade social.

    Nesta publicação, um dos fatos é a fiscalização da lei, falha neste país assim como tantas outras coisas, outro, a sociedade acostumada e acomodada a fazer parcialmente a sua parte, como se o todo do processo não fosse o mais significativo neste conjunto de problemas.

    Nada justifica o erro! Mas de quem realmente é o erro?

    Precisamos de mobilização social, regras mais claras sem benefícios individuais ou classistas, oportunidades iguais de aprendizado e educação, sem distinção de qualquer natureza, conforme nossa velha constituição.

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  3. No Brasil há algo que eu não entendo e não aceito. Quem não ouviu a frase "a lei não pegou". Como é? Lei não é para ser cumprida? Se formos escolher as leis que devemos seguir ou não, onde iremos parar? Também há aqueles que pensam que se o fiscal não está por perto, então pode. Se não há polícia rodoviária ou pardal, a velocidade está liberada, se não há alguém multando quem não estaciona em local correto, então pode ser em qualquer lugar. Um exemplo bobo disso é aquela região da Comercial Sul e W3 Sul (aqui em Brasília). Vários carros sobre as calçadas, fila dupla etc. Como ninguém multa aquilo ali (eu não sei o porquê), então, ninguém respeita nada. Os alunos crescem vendo isso, quando chegam na universidade, continuam a fazer isso porque para eles, é normal. Anormal é andar na velocidade da via, pegar fila, estacionar longe para não ocupara uma vaga de deficiente. Bom, dá para escrever um livro sobre isso. Eu fico é zangado quando começo a falar/escrever sobre isso.

    Parabéns pela postagem.

    Tudo de bom.
    Luís Cláudio LA

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