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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 3 de março de 2012

Cresce a evasão no Ensino Superior - o que fazer?

A evasão no Ensino Superior tem apresentado índices crescentes no Brasil. Independentemente do tipo de Instituição de Ensino Superior (IES), os números são verdadeiramente significativos. Em 2010, segundo o Ministério da Educação, o índice nas IES públicas era de 13,2% e, nas privadas, 15,6%. Se olharmos casos específicos, esses índices são ainda mais preocupantes. Por exemplo, na Universidade de Brasília (UnB), menos de 70% dos alunos que ingressam na instituição se formam.

           Segundo pesquisas realizadas com base no censo da educação superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), dentre as causas para esse cenário desanimador estão: situação econômica do discente;  metodologia de ensino pouco atrativa e, por fim, baixo rendimento acadêmico. 

           Com relação à situação econômica do discente, causa que advém principalmente da inclusão das classes C e D no Ensino Superior, é de notório entendimento que uma solução em potencial é ampliar as políticas públicas de financiamento, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Financiamento ao Estudante no Ensino Superior (FIES). Conjuntamente com essa medida, no entanto, há de se alertar  as autoridades públicas para que, cada vez mais, busquem  aperfeiçoar a seleção dos candidatos inscritos em programas dessa natureza. Isso para fins de garantir que tão somente os discentes que de fato tenham restrições econômicas sejam beneficiados. 

           Quanto à questão metodológica, há um consenso de que existe realmente uma falta de sintonia entre a metodologia de ensino e os interesses de uma geração que está cada vez mais conectada e envolvida com tecnologia, a denominada Geração Y. Neste contexto é preciso naturalmente investir em programas de requalificação de docentes. Mas somente isso não basta. É preciso também alterar a própria infraestrutura dos cursos de Ensino Superior, propiciando o nascimento de um novo paradigma de ensino-aprendizagem


           Por exemplo, as IES podem dar aos discentes alternativas quanto a forma de ter acesso  à informação. Por que não deixar o discente escolher entre assistir a uma aula  de forma presencial ou assistir a  uma aula  pré-gravada, de mesmo conteúdo,  por meio da Internet? Ou, em um cenário mais extremo, por que não permitir que o discente recorra ao auxílio de forma presencial para tão somente a discussão de dúvidas? Alguém pode realmente adquirir e desenvolver o conhecimento se está em sala de aula apenas para garantir uma presença? Parece-me que o foco deve ser sempre o conhecimento, pois ele é efetivamente o que move e muda o mundo. A forma de adquiri-lo deve ser a mais  flexível possível para melhor adaptar-se ao discente. Devemos lembrar que somos indivíduos.


           Naturalmente a implementação dessa mudança de paradigma requerirá investimento considerável, o qual muitas vezes extrapola o orçamento previsto das IES. Quem pagará a conta? Talvez um caminho natural seja: o Estado deve ser o responsável por conduzir todo o processo, disponibilizando programas de treinamento, orientação, estímulo e financiamento para as IES públicas e, também, para as IES privadas, que comprovadamente demonstrem não ter a capacidade de arcar com os custos de imediato. Seja qual for o caminho é preciso agir rápido.

           Por último, sobre o baixo rendimento acadêmico dos discentes, sabe-se que esse é precipuamente resultante de um  Ensino Médio ainda deficiente em nosso país, especialmente o público. O processo de correção e melhoria do Ensino Médio é bem complexo e merece consequentemente toda uma discussão à parte. Para fins de nos mantermos dentro do escopo pretendido deste artigo, aqui  focaremos exclusivamente no que pode ser feito no Ensino Superior para corrigir ou mitigar esse quadro. Esclarecido isso, mencionamos que visualizamos, por exemplo, duas posturas contundentes que poderiam ser adotadas:


1 - Processo seletivo: neste viés a postura parte do pressuposto de que a IES não pode e nem deve arcar com as deficiências do Ensino Médio. Essas deficiências devem ser sanadas no próprio ensino Médio. Sendo assim, as formas de acesso ao Ensino Superior se baseariam essencialmente na avaliação estrita intelectual do discente, mesmo que isso resultasse em uma grande número de vagas ociosas nas IES. Parece simples, mas não é.  Isso porque hoje temos uma taxa de matrícula (de jovens entre 18 e 24 anos) no Ensino Superior de apenas 22%, entre um terço e um quarto da dos países desenvolvidos, metade da de países como Chile, Venezuela e Peru e abaixo da de todos os Brics, exceto Índia. Adotando-se essa postura, esses números serão ainda mais desfavoráveis. 
2 - Disciplinas de nivelamento: aqui passa-se a acreditar que não importa o que ou quem causou o problema, tampouco onde e quando nasceu o problema. Importa tão somente a sua solução. O processo seletivo seria flexível, admitindo-se deficiências advindas do Ensino Médio. Seriam então criadas disciplinas específicas de cada área de conhecimento com a finalidade de garantir o devido nivelamento de todos os discentes que ingressassem no Ensino Superior. Também parece simples, mas não é. Essa postura faria com que os cursos de Ensino Superior tendessem a se alongar, indo na contra-mão daquilo que se imagina ser o curso de Ensino Superior do futuro: dois, três ou quatro anos de duração; trata de várias áreas do conhecimento; e muito mais mais preocupado em ensinar a pensar do que em transmitir conhecimentos e habilidades específicas, pois a a obsolescência do saber será ainda maior do que já é hoje. 


           Em síntese, a evasão no Ensino Superior deve ser imediatamente combatida. O caminho a ser percorrido para atingir essa solução é árduo, longo e complexo. Não há atalhos e soluções prontas. Mas a recompensa ao final será uma educação de maior qualidade e, consequentemente, um país mais próspero. Em postagens futuras tornarei a debater esse tema. Nesse ínterim, sinta-se à vontade para opiniar e, se possível, assista à palestra de Salman Kahan, que tem sido reconhecido como um verdadeiro fenômeno por estar tornando o aprendizado mais atraente, satisfatório, interessante e produtivo. Já são mais de 4 milhões de alunos que o tem como professor na Internet.

Um cordial abraço e que Deus, como quer que você o imagine, te faça muito feliz.

                                                                                Escrito por: Prof. Carlo Kleber

2 comentários:

  1. O fato é que o problema econômico do discente conta muito na continuidade do aprendizado em uma Instituição de Ensino Superior (IES), assim como a metodologia de ensino adotada, mas em minha humilde opinião, existe algo simples e maior que todas as adivinhações discutidas entre professores e diretores de uma IES: O QUERER DO ALUNO.

    Quando chegamos à universidade, imaginamos que as orientações dos professores serão únicas e que o cenário acadêmico resolverá todos os problemas básicos de nossas vidas, seja ele profissional ou intelectual.

    O que vejo hoje, saindo da universidade, é que o mercado de trabalho, na área de informática, já exige muito mais do que as universidades podem oferecer, e infelizmente, a participação do aluno não é atrativa para os professores acomodados, seja ela por dificuldades na mudança da estrutura do processo de aprendizagem ou por limitações de conhecimento. Assim, a política do “Manda quem pode e obedece quem tem juízo” aparece, e os alunos acabam buscando conhecimento em outros lugares e abandonam a universidade para atender as exigências do mercado de trabalho.

    Quando digo que o querer do aluno é fundamental, me refiro também ao investimento das instituições em direcionar o aluno ao desenvolvimento de suas habilidades e escolha de sua profissão. Podemos discutir que isso já deveria ter sido feito antes da inclusão na universidade ou será feito naturalmente ao passar dos semestres, etc. Mas será que estamos sendo eficazes, eficientes, ou nenhum dos dois?

    Minha sugestão: Acredito que o aluno deveria ser mais incentivado em suas atividades acadêmicas, de acordo com sua estrutura financeira, familiar e intelectual. Seja ele um colaborador, um instrutor ou um funcionário da universidade, proporcionando a ele igualdade na aprendizagem e mais objetividade profissional.

    Como diz Lewis Carroll, "Qualquer caminho serve quando você não sabe para onde está indo".

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  2. Prezado Prof Carlo Kleber,

    Em tempo e fugindo um pouco do assunto deste artigo:

    Parabéns pelo vídeo de apresentação do Blog, pois é muito esclarecedor e objetivo.

    Att.

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