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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

terça-feira, 17 de junho de 2025

 

Renovar para Crescer: A Importância de Incentivos Exclusivos para Pesquisadores Não Consolidados

A ciência é o motor do desenvolvimento de qualquer nação. Contudo, o sucesso de uma política científica não depende apenas do volume de recursos investidos, mas principalmente de como esses recursos são distribuídos. No Brasil, é notório o fenômeno da concentração de recursos nas mãos de grupos consolidados, muitas vezes vinculados a grandes universidades e centros tradicionais de pesquisa. Enquanto isso, jovens pesquisadores lutam por espaço, reconhecimento e autonomia. É chegada a hora de discutirmos com seriedade a necessidade de editais e programas exclusivos para pesquisadores não consolidados, com regras claras que impedem a participação ou influência direta de pesquisadores já consagrados.


Não se trata de desvalorizar os pesquisadores consolidados. Muitos deles construíram carreiras admiráveis e desempenham papéis importantes na ciência nacional. O problema reside na estrutura viciada e concentradora, onde os mesmos nomes ocupam, ano após ano, os mesmos espaços de liderança, financiamento e prestígio. Isso cria um ciclo vicioso de privilégio acadêmico, onde jovens talentos permanecem à sombra, muitas vezes trabalhando como coadjuvantes em projetos cujos méritos acabam apropriados por figuras mais influentes. Além disso, a influência informal dos pesquisadores seniores em editais supostamente abertos gera distorções graves no processo de avaliação. Essa influência, por vezes velada, mina a credibilidade do sistema e sufoca a renovação científica.

A criação de editais exclusivos para jovens pesquisadores é uma política que visa corrigir esse desequilíbrio. Programas como esse não são um ataque ao mérito, mas sim um investimento estratégico no futuro da ciência brasileira. Garantir que esses pesquisadores possam liderar projetos de forma autônoma é fundamental para o surgimento de novas linhas de pesquisa, novas abordagens e novas lideranças acadêmicas.

É essencial, porém, que esses editais tragam uma regra explícita: pesquisadores já reconhecidos como bolsistas de produtividade ou líderes consolidados não devem participar — nem como coordenadores, nem como co-coordenadores. Podem, no máximo, atuar como consultores ou colaboradores externos sem poder de decisão. Essa medida rompe com a lógica do apadrinhamento e da tutela, permitindo que novas ideias floresçam por seus próprios méritos.

Alguns críticos podem argumentar que impedir a participação de pesquisadores experientes pode isolar jovens pesquisadores. Essa preocupação é válida, mas facilmente contornada: o diálogo e a colaboração continuam possíveis, desde que os papéis estejam claros e a liderança seja efetivamente do jovem pesquisador. Além disso, esses editais podem prever programas paralelos de mentoria formal, onde a troca de experiência é estimulada, mas a autonomia científica do pesquisador emergente é respeitada.

O dilema que se apresenta é claro: ou o Brasil aposta em uma renovação efetiva de seu quadro científico ou permaneceremos reféns de uma estrutura concentradora e, a longo prazo, estagnada. A inovação nasce da diversidade de perspectivas, e isso só é possível quando novos pesquisadores têm espaço real para construir seus próprios caminhos.

Incentivar jovens pesquisadores com editais independentes e regras claras contra a captura por grupos consolidados é uma medida urgente para democratizar o acesso aos recursos, descentralizar o conhecimento e garantir que a ciência brasileira seja, de fato, um reflexo plural de sua sociedade. Se queremos futuro, precisamos renová-lo hoje.

Darwin Sagan


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