Conversava com
um amigo, também professor, sobre recente visita à Lisboa, capital dos portugueses.
Verifiquei a bela cidade que o povo lusitano construiu. Impressionei-me com
belas obras e monumentos e sob o sol de final de inverno sobre o rio Tejo. Sem
dúvida, uma cidade de primeiro mundo. Lisboa possui excelente transporte
urbano, sistema de segurança que funciona e limpeza nota dez.
Porém, meu amigo
ressaltou a diferença entre os portugueses e os norte-americanos. Enquanto
Portugal existe há mais de mil anos, os Estados Unidos da América (EUA) são um
pouco mais novos que nós no Brasil. A diferença de idade entre os dois países,
europeu e americano, não impediu que os estadunidenses estejam anos-luz à
frente dos portugueses. Entre vários itens, repousa a pesquisa.
Os portugueses
possuem apenas um ganhador de prêmio Nobel: José Saramago. Entretanto, os EUA
possuem vários em física, química, economia, paz, etc. A diferença é gritante.
Discutimos eu e meu amigo sobre essa diferença. Concluímos que a inclinação de
cada um dos povos marcou o desenvolvimento distinto e os resultados obtidos.
Os portugueses
são um povo guerreiro. Saíram de seu pequeno país, após séculos de luta com
seus rivais espanhóis, e ganharam o mundo. Os portugueses são comerciantes por
excelência e não se intimidaram em conquistar o oceano Atlântico (o “mar
Tenebroso”), dobrar o cabo da Boa Esperança, singrar o Índico e chegar ao Japão
(o Cipango).
Os
norte-americanos, ao contrário, construíram seu país em cima da educação.
Firmaram suas bases nas escolas, desde a colônia. Esclarecimento levava a Deus
e depois ao progresso. Fizeram da pesquisa um item essencial na construção do
conhecimento. Ensinaram, e assim continuam, a ensinar o passo a passo para se
chegar às respostas das muitas perguntas que o mundo fez, faz e fará.
Portanto,
montado sobre uma educação nos níveis equivalentes ao nosso Fundamental e
Médio, públicos e de qualidade, facilitando o ingresso na escola para todos,
proporcionando ensino de qualidade e sem cobrança de mensalidade escolar, criaram
cidadãos conscientes da importância da educação em suas vidas. Portanto, pesquisar
é uma característica dos norte-americanos.
Muito se diz que
nos EUA seus cidadãos conhecem muito de seu país e nada dos outros. É
recorrente a piada que diz que para um norte-americano a capital do Brasil é
Buenos Aires. Nós rimos disso e nos gabamos de saber que a capital da Mongólia
é Ulan-Bator. Brilhante! Claro que nós, com o PIB caindo, IDH miserável e
inflação crescente somos mais espertos que os norte-americanos!
Eles utilizam
seus especialistas, profissionais sérios e dedicados, que se dedicam a estudar
os mais variados assuntos nas universidades. Assim, se o governo ou uma empresa
precisa de um conhecimento específico contrata um consultor em uma faculdade.
Sem nenhum problema. Ele presta seu serviço e o contratante paga seu serviço.
Sem nenhum trauma.
Aqui eu
conversei com um professor universitário com mais de trinta anos na sua
universidade (federal). Perguntei por que nosso distanciamento da pesquisa
realizada e os resultados obtidos. Meu questionamento básico era: por que nossa
pesquisa contribuiu tão pouco para os setores públicos e privados?
Em linhas
gerais, ele me disse que não temos essa cultura. Temos o órgão fiscalizador de
pesquisa no Ministério da Cultura, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
do Ensino Superior (CAPES). Porém, eles se comprometem apenas com o processo,
fiscalizando produção de artigos e outras publicações. Porém, a priori, não verificam onde o produto
dessa pesquisa se aplicará.
É claro que isso
não é regra geral. Existem centros de pesquisa dedicados e que possuem
resultados práticos. Porém, parecem ilhas de excelência num mar de produtos
entregues para ninguém usar. Portanto, nossa pesquisa não possui muitos aportes
de recursos porque não é considerada como pertinente ou útil para encontrar
respostas.
Vejam o caso do
conselho montado na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para introduzir
mudanças na gestão do futebol brasileiro: além de dirigentes, existem vários
jogadores. Não que eles não entendam de futebol, pois possuem renome. Mas, além
de comentar sobre futebol, que estudos realizaram para melhorar a gestão do
futebol? Que clubes geriram para mostrar sua capacitação?
Mais uma vez
afastamos profissionais da área de administração, do desporto, que se dedicam
ao estudo sério de vários assuntos e onde, seguramente, existe estudo e
trabalhos sobre a gestão do desporto nacional. Seriam esses desconhecidos menos
capacitados para oferecerem alternativas à crise que se desenhava no futebol e
que culminou nos 7 a 1?
Ainda temos que
caminhar muito para chegarmos num nível razoável. A educação continua como
plataforma de campanhas, mas como uma das primeiras a serem esquecidas
terminadas as eleições.
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