Eu
fui um dos fiscais de uma prova de concurso para alunos dos últimos anos do
Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. O edital era bastante rigoroso no que
tange a horários e procedimentos. Horários de chegada, preenchimento dos documentos
(folha de resposta e folha de redação), saídas de sala ao banheiro,
deslocamentos de chegada e de saída à sala, dentre outros.
O
primeiro aluno a chegar, com bastante antecedência, parecia um náufrago
chegando à ilha deserta. Estranhei sua atitude porque era a segunda fase da
avaliação e ele participara da primeira. Rapidamente perguntou se poderia ir ao
banheiro. Encaminhei-o aos auxiliares para sua condução. Quando voltou à sala
perguntei se estava nervoso. Respondeu que não. Minha experiência dizia o
contrário.
A
coordenadora das provas informou que deveríamos avisar, escrevendo no quadro da
sala, a cada hora, o tempo restante para o final da prova. O aluno em questão
mostrava-se extremamente concentrado. Por fim, a partir da última hora de
prova, os ficais deveriam, verbalmente, informar o tempo restante. Havia a
necessidade de entrega da redação e do cartão de respostas para validar sua
chance de passar na avaliação. O cartão dele, entretanto, permanecia em branco.
Quando
faltavam trinta minutos, quinze minutos e dez minutos, passei a avisá-lo
diretamente que ele precisava preencher o cartão de respostas. Ele disse que
estava tudo bem. Quando faltava um minuto ele começou a preencher o cartão. No
entanto, ao final do tempo de prova, quando o sinal tocou avisando do término
do tempo, avisei que a prova acabara e que mais ninguém poderia escrever.
O
aluno entrou em pânico. Disse que estava terminando e precisava acabar de
preencher. A coordenadora da prova chegou e lembrou a ele que o edital era
claro quanto às regras e que ele não poderia preencher nada após o final da
prova. A explicação não foi suficiente e ele, histérico, disse que só precisava
de pouco tempo mais, o que lhe foi negado. O candidato entrou em franco
desespero.
O
episódio, eu soube depois, se repetiu em outra sala. Outra candidata
simplesmente deixou a folha de respostas sem preenchimento. Entrou em franco
estado de histeria e começou a chorar. Isso continuou enquanto ela se dirigia à
saída do local de provas. Soube que o auxiliar que a levou de volta à sua mãe
viu ela dizer que não conseguira preencher a folha de respostas.
A mãe
da candidata, o auxiliar esperava, deveria apoiar a filha dizendo que isso era
um aprendizado e que no próximo ela teria desempenho melhor. No entanto,
comentou que não tinha nenhum problema e que iria à justiça para reverter a
situação. O auxiliar, presenciando a cena, estranhou a fala da mãe e depois
relatou o fato à coordenadora da aplicação das provas.
Acredito
que esses fatos revelam o profundo despreparo da atual geração para lidar com
regras e frustrações. Muitas vezes verificamos um profundo individualismo, como
se o mundo girasse em torno somente dele. Talvez, acredito, essas impressões
ocorram por causa das tecnologias que permitem que você, sozinho, se comunique
com o mundo por intermédio das redes sociais e das ferramentas de comunicação
instantânea.
Acredito
que o isolamento das pessoas devido à tecnologia, o que traz uma falsa ideia de
que eles estão inseridos no mundo, trouxe uma enorme dificuldade de lidar com o
mundo real. Com certeza vemos que o Brasil é um grande descumpridor de regras.
Porém, não creio que os jovens de hoje estejam muito preocupados com o que se
passa no Congresso, mesmo com a existência da TV Câmara e da TV Senado.
Acredito
que os jovens de hoje são capazes de brigar, conversar, terminar namoros, fazer
novas amizades e outras atividades apenas no mundo virtual. Isso fez com que
tenham enorme dificuldade de encarar os problemas e as situações quando elas
acontecem no mundo real. Quando se deparam com uma limitação, quando o nível de
estresse aumenta, quando tudo acontece e não existe um botão para “resetar”
para começar de novo.
O
futuro trará um grande choque. É uma geração que cobra muito os seus direitos.
No entanto, não são muito bons em cumprirem os seus deveres. Aliás, acredito
que não se preocupem muito em saber quais são. Muito culpa da geração anterior,
a minha geração, criada nas dificuldades e da hiperinflação, das dificuldades
de empregabilidade, sem internet.
O
Google traz respostas a muitas perguntas. Porém, não traz soluções para
problemas reais. A nova geração, portanto, sofrerá no seu nível, no mundo pós
internet e dos problemas que essa maravilhosa ferramenta trouxe de ruim. É o
preço que se paga por suas possibilidades. Tudo tem um lado negro. Já sabia
disso desde o primeiro filme da série Jornada nas Estrelas.
Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )
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