Certa vez um amigo meu estava reclamando de seu excesso de tarefas no
trabalho e seu pouco tempo para dar conta de tudo. Comentou que, todos os dias,
tinha uma série de reuniões para participar, vários documentos para ler e
analisar, além de um grande número de decisões para tomar.
Em meio à falta de tempo, lembrou com saudades e certa inveja de seu
velho pai. Gaúcho do interior, criado nas lides do campo, era analfabeto.
Contudo, após uma semana de trabalho árduo, seu fim de semana eram as corridas
de cavalo (as carreiras) e o jogo do osso, típico dos rincões das fronteiras meridionais.
É claro que uma vida simples leva a condutas simples. Decerto o velho pai
do meu amigo não perdia seu tempo em reuniões, não tinha documentos para ler
(pois não o podia) e suas decisões se restringiam a qual cavalo ia ganhar ou
qual face do osso ia cair para cima.
É claro que o pai do meu amigo tinha uma visão muito simplista do mundo.
Suas necessidades eram naturais, quase primitivas: comer, dormir, ganhar o pão
e se divertir. Nada mais. Seu mundo era o torrão natal. Sua realidade era o dia
a dia campesino, horizonte fixado em algumas coxilhas adiante. Restrito.
Acanhado até.
O mundo, porém, abrange várias coxilhas. Passa por muitas serras e
montanhas, toma espaço por rios, lagos e oceanos. O mundo conhecido não se
fecha em torno de meia dúzia de coxilhas, mas está ao alcance de um clique de
mouse.
Não podemos esperar que nossos filhos olhem para o mundo de uma forma
restrita. O mundo está cada vez mais complexo e competitivo. A tecnologia impõe
cada vez mais a necessidade de conhecer, de pesquisar, de estudar e aprender.
Antigamente podíamos viver com umas poucas informações por toda a vida. Isso
não é mais possível.
A par disso, nossos filhos devem ser capazes de possuir a vontade de
vencer num mundo cada vez mais competitivo. As capacidades de cada um serão
exploradas. E mais: não bastará só conhecimento. Será preciso uma força de
vontade muito grande para aceitar a competição e não ficar para trás.
O ator Juca de Oliveira, em uma entrevista ao programa de José Luís
Datena (no Coração do Brasil), por ocasião do aniversário da capital paulista
em 2009, falou que São Paulo é uma cidade que dá a todos uma oportunidade.
Porém, cada dia você tem que provar que é bom, pois existem vários querendo ser
melhores que você.
Um médico amigo meu corroborou esse comentário. Estávamos os dois sentados
no saguão do aeroporto de Congonhas, no coração da paulicéia, quando ele me
contou que morara em
São Paulo. Falou que sua carreira teve um impulso muito
grande ao trabalhar nas terras paulistanas. Contudo, sentiu na pele o preço da
competitividade existente na maior cidade da América Latina.
Não sei se nossos filhos morarão todos em São Paulo. Não sei
se eles precisarão palmilhar as marginais do Tietê e do rio Pinheiros,
bandeirantes do asfalto e dos engarrafamentos da maior cidade do Brasil. Mas sei
que eles herdarão, além da terra, um mundo em constante transformação, em
evolução constante.
Nossa principal tarefa é dar a eles as condições de se inserir nesse
mundo em luta, onde a sobrevivência não será do mais forte, mas sim do mais
apto. Eles, que nasceram na Era Digital, que sabem manejar com desenvoltura o
controle remoto, as máquinas digitais, navegam pelas ondas da Internet e se
comunicam além fronteiras, terão para eles um mundo do tamanho dessa nova Era.
Esperemos que eles estejam preparados para os desafios que esse mundo
lhes reserva. Esperemos que o nosso dever de casa seja feito de modo a dotá-los
das competências necessárias para que eles sobrevivam na Selva Digital. Só
teremos espaço para um novo Tarzã na forma virtual, como num jogo. A competição
é real.
Escrito por: Prof. Luiz Augusto.
De forma cativante e simples, este artigo nos leva a pensar sobre o legado essencial que os pais devem deixar para seus filhos. O autor, com sua notável sensibilidade para tratar o tema, é muito feliz em suas colocações.
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