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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 2 de março de 2013

A Sêca: uma dádiva dada por Deus





Ano após ano temos visto, e vivido, o mesmo drama. Drama que tem sido anunciado, há milênios, já que se trata de uma situação natural. Então, cabe, justa, e expressamente, a pergunta: por que é um drama? A seca é um fenômeno cíclico, ambientalmente, definido; e que deve, repito, deve ser visto como um período de enormes vantagens para o homem do campo, bem como, por conseguinte, e inexorável decorrência, para os que estão na zona urbana.

Vantagens? Sim. Vantagens. Durante o período seco, podemos trabalhar a terra sem as complicações que são comuns, em tempos de chuva: aguaceiros, atoleiros, estradas de terra sem condições de trânsito etc. O período de chuvas deveria ser aquele em que estaríamos mais preocupados em capturarmos, e armazenarmos a água que caiu para, na sequência, ser utilizada nas várias atividades.

E alguns, precipitada, e desavisadamente, a exemplo de líderes religiosos, gestores públicos, diversos técnicos, e líderes da sociedade civil organizada, ou não, poderiam, retoricamente, perguntar: esse cara é maluco, em apontar a seca como uma dádiva? Não. Não sou maluco, e digo isso, absolutamente, convicto do que estou dizendo. Embora nunca tenha visto um maluco admitindo a sua loucura.  E me posicionarei, contrariamente, a todos os que fazem, irracionalmente, a propaganda da seca como a responsável pelo sem número de mortes para animais, e plantas, e dificuldades experimentadas por quem habita o riquíssimo semiárido brasileiro.

No livro Memorial da Sêca, organizado por Vingt-un Rosado, em edição especial para o Acervo Virtual Oswaldo Lamartine de Faria, vinculado à Coleção Mossoroense em seu primeiro capítulo trata “Dos Meios Eficazes Para Prevenir E Atenuar Os Efeitos Das Secas Periódicas”. Como todos podem ver, só o título já permite perceber o enorme conjunto de conceitos técnicos, e sociais que permeiam a obra. Não poderia ser diferente! Conviver com as estiagens, muito mais que um ato de extrema bravura, deveria ser resultado de atos de inteligência por quem possui as condições intelectuais, técnicas, e de gestão para tanto.

Segundo o livro, em seu primeiro parágrafo, “A falta e o excesso de água no solo são igualmente nocivos e muitas vezes ocorrem na mesma região por circunstâncias especiais”. Diferentemente do que muitos legisladores, gestores públicos, e várias autoridades, costumam achar o semiárido não é uma toalha branca. Não é um coisa só. É um complexo. É uma colcha de retalhos, em sua mais completa, e perfeita tradução. E suas inúmeras peculiaridades no que se refere aos vários tipos de solo, vegetação, ocupação humana, redes de drenagem etc, devem ser consideradas quando da elaboração de quaisquer ações com vistas à produção agrícola, ou para mitigar os efeitos de secas, e inundações.

Isso me fez lembrar da música Súplica Cearense, de autoria de Gordurinha e Nelinho, imortalizada por Luiz Gonzaga. A letra, sempre me intrigou, mas só, há alguns anos, consegui, ao menos, penso, apreender o seu verdadeiro sentido. É toda ela de uma sabedoria, sem par. E nos abre os olhos do espírito. Mas, a ressalva crística é singular: “Quem possui olhos de ver que veja”. É claro que não serão todos os que estarão aptos. Os compositores, à guisa de profetas, questionam, permanentemente, a exata, ou inexata, medida de nossas rogatórias à Divindade Maior. Historicamente o povo, e vários líderes religiosos, principalmente, “rezou um bocado, pedindo pra chuva cair, cair sem parar”. E Deus, em sua ação, eternamente, didático-pedagógica, ao contrário do que diz a letra, não se zangou. Deu-nos uma lição, no melhor sentido do termo, sobre aquilo que penso ser A Exata Medida das Coisas. Enviou água tanta que peixe procurou abrigo. Deus não castiga. Deus ensina. Instrui. Chancela o acesso ao conhecimento. E como Ele faz isso? Dando-nos, amorosamente, a inteligência, e o livre arbítrio. E como se fosse pouco, nos premia, ainda, com os Princípios Morais. São eles que nos levarão à solidariedade. Se formos espertos, é claro.

Portanto, em lugar de pedirmos muita chuva, peçamos que chova o necessário. Que caia água na exata medida das necessidades da terra, das plantas, do ser humano, e dos animais! Até por que, é assim que o mecanismo natural do ciclo da água (Ciclo Hidrogeoquímico), no planeta Terra, funciona. Não por acaso a letra fala “pedi pra chover, mas chover de mansinho”. A natureza funciona, exatamente, assim: de mansinho. Há que se respeitar processos, tempos, complexidades. Temos um fotoperíodo excelente para várias plantas frutíferas. E várias outras condições meteoroclimatológicas que podem nos colocar numa posição privilegiada diante do mercado interno, e externo. Podemos, atendendo às questões técnicas, produzir várias culturas, e com alta qualidade.

Mas antes de pedirmos lembremos, oportunamente, de agradecer pela absurda quantidade de água que temos em nossos subsolos! Água que precisa ser, cuidadosamente, utilizada para que não salinize enormes áreas susceptíveis. Tecnologias existem, e custos podem ser compartilhados, minimizados, ou mesmo, eliminados.

Enchentes e secas não são fenômenos a serem combatidos. Em Cabaceiras,  Paraíba, por exemplo, as enchentes, na parte baixa da cidade, são, dentre alguns outros fatores citados, acima, o resultado de uma decisão estúpida, tomada, há décadas, atrás, de não mudar a área urbana para cotas mais altas, por ocasião da construção do açude Epitácio Pessoa.  Por um razão muito simples as catástrofes decorrem de decisões mal abalizadas, ou de planejamento. O que não foi o nosso caso, já que os engenheiros da obra avisaram das consequências possíveis de uma decisão tão idiota. Catástrofes resultam da nossa incompetência, negligência, imprudência, ou inoperância. Tudo isso, em maior ou menor grau. E com as devidas e honrosas exceções.

Portanto, urge a necessidade de tornarmos política pública todo um conjunto de conceitos, ações, planos, programas, projetos etc, que tenham como meta, e como objetivo, a adoção de técnicas de convivência com as condições ambientais do semiárido. Técnicas que visem à oasificação da região: barragens subterrâneas, barraginhas, poços, cisternas, revegetação, reflorestamento etc. Há uma enorme quantidade de meios que podem ser utilizados para dar um novo aspecto à região em questão. 

Muita coisa já vem acontecendo, mas nos parece que o apoio dos governos deveria ser bem maior, pois suas orientações e decisões obviamente ajudam a definir o futuro da nação. É preciso, por exemplo, pensar e repensar na formação dos profissionais de nível superior dos vários cursos relacionados direta e indiretamente a esse tema como Agronomia, Agroecologia, Engenharia Florestal, Engenharia de Pesca, Medicina Veterinária, Zootecnia e Engenharia Aquicultura e tantos outros. Indago-me: estariam os profissionais egressos desses cursos suficientemente atentos para essas questões? Seriam seus currículos adequados diante dessa nova perspectiva?  

E no que concerne à população, mormente, a que vive nos espaços rurais, há que se buscar um compromisso sério com a participação nos processos de levantamento de seus problemas, busca de soluções, e gerenciamento dos projetos implantados. A hora de tomar as rédeas do próprio destino já passou, há décadas. Apenas esperar que autoridades façam tudo, é sinal de imaturidade. Quiçá, algo pior!

Escrito por: Eng. Agrônomo e aluno de Letras Armistrong de Araújo Souto

Um comentário:

  1. O autor propõe ver a sêca que assola, principalmente, a região Nordeste de nosso país como uma oportunidade para o desenvolvimento de novos conceitos e paradigmas, inclusive no que se refere a formação de profissionais de nível de Ensino Superior. Obrigado ao autor por sua contribuição.

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