As
ferramentas disponibilizadas pela tecnologia da informação (TI) facilitaram o
processo de ensino-aprendizagem. Sistemas de busca, trabalho colaborativo, processamento eletrônico de documentos, planilhas eletrônicas, apresentadores,
dentre outros, facilitaram a exposição, desenvolvimento e aperfeiçoamento de
conteúdos. Para professores e estudantes.
Contudo,
sabemos que a evolução da humanidade se deu pelas carências, não pelos
excessos. A falta de iluminação trouxe a lâmpada elétrica. A dificuldade de
comunicação trouxe o telefone. Depois, a internet. Todas as invenções,
particularmente as que mudaram dramaticamente a vida, o cotidiano, surgiram da
escassez, não da abundância.
Acredito
que, na contramão do excesso de TI, há uma nova necessidade em sala de aula.
Algo ligado à inteligência artificial? Comunicação de voz e dados
ultrarrápidos? Não! Quadro e giz. Quadro e giz? Sim, isso mesmo. Ou, para os
velhos mestres: “cuspe e giz”. As novas tecnologias abriram espaço para velhas
respostas, elas mesmas evolução em um dado momento da história.
As
facilidades criaram efeitos colaterais, danosos para a educação. Fotografar slides
em sala, ou palavras escritas no quadro, criaram alunos com preguiça de
escrever. Digitar é apenas um processo braçal de transmitir arte que o cérebro
esculpiu e a linguagem formatou. Uma máquina de escrever (guardo ainda minha
velha e querida Olivetti) tem tanta importância quanto um lápis ou uma caneta.
As
cerca de quinhentas e trinta mil redações com nota zero do Exame nacional do
Ensino Médio (ENEM) de 2014 são um alarme. Há um incêndio na sala de aula:
pensar (e escrever). Os alunos, pouco a pouco, perderam a capacidade de se
expressarem utilizando um material gráfico. Como aquele tal uso e desuso dos
órgãos que aprendi nas aulas de Biologia: não usa, o corpo descarta.
Os
resumos de livros, que antes devorávamos nas leituras da juventude, deram lugar a
alunos não pensantes, não analisadores e não escreventes. Uma lástima. Certa
vez uma aluna me perguntou se eu li Guerra e Paz (do imortal Tolstói). Disse
que sim. Ela me falou que era muito grande e pensava em apenas pegar o resumo.
Disse que isso equivalia a um tiro na sua formação.
Uma
colega professora adotou uma nova postura com seus alunos. Ou, melhor dizendo,
velha postura: adotou livro-texto e caderno. Aboliu o powerpoint e passou a
escrever no quadro branco (o giz tem que evoluir). Fez os alunos voltarem a
escrever, perguntar, fazer lição de casa, fazer exercícios em sala. Passou a
pontuar os cadernos. Enfim, voltou aos “velhos tempos”.
Passei
a utilizar o mesmo procedimento. Surpresa: os alunos gostaram! Disseram-me que
estavam acostumados a isso e estão contentes. Caramba, eu que pensei que seria
uma grande dificuldade. Adotei um portfólio de tarefas, tarefas essas que
cobrarei sua confecção dentro de um cronograma pré-estabelecido. Nada ficará ao
acaso.
Distribuí
revistas que assino e guardava, por pena de dar um destino menos glorioso, e
mandei escolherem, e lerem, assuntos de seu interesse. Claro, redigissem um
texto, dentro de algumas regras simples e objetivas. Muitos disseram que não
faziam ideia dos conteúdos que encontraram. Fiz isso com a finalidade de dar
conhecimentos gerais e capacidade de síntese.
Descobri
que tecnologias consagradas não se esquecem no tempo e se relegam à história da
educação. Ainda há espaço para velhas ferramentas. Afinal, o que interessa é
aprender. Muitos conceitos se criam, mas não seria prudente esquecer da velha
sala, da velha carteira, do velho quadro. Tudo bem, com o novo quadro branco e o
novo pincel para ele.
Escrito por: Prof. Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )