Os conselhos de
classe funcionam como fiscais dos formados em algumas profissões. Creio que a
Ordem dos Advogados do Brasil seja muito conhecida, muito em função do famoso
Exame da Ordem, e seu processo seletivo visto como um fator de qualidade face
aos diversos profissionais formados. Passar de bacharéis em Direito em
advogados é algo que tira o sono de vários formados pelo Brasil.
Notei,
pessoalmente, a preocupação de muitos alunos de cursos de Ciências Contábeis
também com a preocupação dos seus exames. Muitos alunos só “acordam” para a
realidade quando se aproximam dessa fase. Comentários de alguns professores me
levaram a crer que muitos alunos só encaram com seriedade o curso quando
“despertam” para a prova. Tal não deveria ser mas, na prática, isso ocorre
muito.
Existem muitas
profissões sem Conselhos. A maioria não certifica seus formandos. Na prática, o
desempenho fica por conta da famosa lei da oferta e da procura. O cliente
procurará pelos melhores, diferenciará os capazes dos menos capazes. Embora
seja muito darwinista, este processo tem sua lógica. Afinal, ninguém escolhe um
time para uma “pelada” de fim de semana começando pelos piores, não?
Só comecei a
pensar na prática dos Conselhos quando estava no cinema e ouvi alguém
comentando sobre a Ordem dos Amigos dos Bandidos. O distinto cidadão tecia
enormes críticas a essa Ordem, principalmente pelo fato de aparecer muito
profissional junto a bandidos postos na notoriedade pela mídia. É claro que
toda pessoa tem direito à sua defesa. Isto é uma condição indiscutível.
Vários advogados
iam às cadeias em busca de presos políticos, não criminosos, durante o Regime
Militar. Essa visão do advogado acabou, infelizmente, se distorcendo na mente
de muitos cidadãos. Assim, parece apenas que advogado apenas “defende bandido”.
Sabemos que não é assim, mas isso existe. Sabemos também ser muito difícil
retirar de circulação os estereótipos muito enraizados.
Outra questão é
o certificado que o exame fornece. Muito se falou de prós e contras. Amigos que
passaram pelo exame disseram-me que ele cobra o básico do que se ministrou no
curso. Não haveria um “bicho-de-sete-cabeças”, mas apenas o que todos deveriam
saber. Mas aí a dúvida: quem certifica o curso, o Conselho ou o Ministério da
Educação?
Novamente caímos
na conclusão óbvia que a educação no Brasil está ruim. Um Conselho testa o que
o MEC reconheceu como válido. O bacharel em Ciências Contábeis só é contador
depois de uma prova, assim como o bacharel em Direito vira advogado depois de
uma prova também. O Brasil vai na contramão do desenvolvimento por necessitar
de certificados quando o governo é que seria a grande agência certificadora.
Acredito que um
processo só é válido quando o aluno é testado ao longo dele. Creio que uma
prova em si não mede, apenas verifica se o aluno sabe fazer uma prova. Assim
como o vestibular evoluiu e surgiram o PAS e o ENEM, creio que o MEC poderia,
ao invés de se render a esses exames de ordem, exigir maiores desempenhos dos
alunos. Fazer como em países que encararam o desafio e, como na Coréia do Sul,
elevaram as notas para aprovação.
Uma ex-aluna
minha me disse que os coreanos, para aprovação nas disciplinas, precisam tirar,
pelo menos, a nota nove. Eles justificariam essa prática dizendo que quem tira
nove não domina dez por cento do conteúdo. Assim, um profissional brasileiro
com média cinco na faculdade atesta que não sabe metade do conteúdo. Será que
aceitaríamos um cirurgião que não sabe metade do que fazer em uma mesa de operação?
Fica o desafio
às instituições de ensino superior. Será que elas teriam essa coragem? Será que
modificariam suas práticas, a começar por melhores, mais capacitados, melhor
remunerados e prestigiados professores? Será que o MEC reconheceria que a
educação fundamental e a educação média são um horror, provados pelos exames PISA da vida? Ou o Soletrando do Luciano Huck? Será que as faculdades aceitariam ou sobreviveriam
com esse nível de exigência?
Certa vez o
presidente Lugo, do Uruguai, disse que só modificamos uma questão muito
sensível a partir de soluções inovadoras. Não se modificaria o panorama da
maconha com medidas já testadas e fracassadas, precisariam de algo novo. Acho
que aqui também precisamos de algo radical, novo, não visto antes (pelo menos
aqui). O choque causará tsunâmis (não
“marolinhas”). Os melhores ficarão.
E aos
perdedores? As batatas, como diria Machado de Assis. Ou um bolsa-fracassado.
Professor e Educador Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )