Outro
dia estava em sala de aula apresentando uma palestra sobre sustentabilidade. O
tema se ligava à gestão de pessoas de forma sustentável. Preparei-me para o
evento por meio de uma pesquisa de campo onde verifiquei, num posto de
gasolina, como era o processo de recrutamento e seleção de novos frentistas.
A
apresentação corria um tanto quanto “morna” até que mencionei que o
gestor/gerente do posto, entre várias perguntas, inquiria se os candidatos
possuíam alguma religião. Ao expor o item em sala me deparei com um debate
acirrado sobre esse critério do gestor. Algumas alunas se manifestaram contra a
atitude do gerente, alegando ser ele uma pessoa “discriminadora”.
Aleguei,
a meu turno, que a pergunta se baseava em uma razão prática. Ele me disse que o
posto tinha como princípio a honestidade, coisa muito contestada neste século,
particularmente em Brasília. Disse que, na sua experiência de mais de dez anos
naquele posto ele percebeu que os funcionários/colaboradores que possuíam algum
apego religioso tinham maior facilidade de se adaptar ao que o posto pregava.
Seguiu-se
um debate em sala sobre o assunto. Alunas se postavam contra esse critério,
chegando mesmo a dizer que “jamais trabalhariam naquele lugar”. Outros alunos
colocaram que era apenas uma pergunta, entre várias outras, e que mesmo o fato
de um colaborador ser ateu “não impediria sua entrada no posto”.
Prossegui
a palestra deixando para as mesmas alunas duas perguntas. Primeira: “se vocês tivessem
uma empresa e necessitassem de um contador, contratariam o Delúbio Soares?
Segunda: “se vocês precisassem contratar uma babá para trabalhar e morar em suas
casas, contrataria uma ex-presidiária que cumpriu pena por assalto e
homicídio?”. Não pedi nenhuma resposta para nenhuma das perguntas, apenas que
eles pensassem.
O
caso não parou por aí. Em outra aula, dois dias depois, comentei sobre a senhora
que foi morta em Santos-SP por ser confundida com uma suposta adoradora do demo
cuja foto circulava em redes sociais. A senhora teria certo grau de semelhança
com a suposta adoradora. Não bastou que a senhora viesse da igreja e tivesse
uma bíblia sob o braço: foi linchada e morta.
Coloquei
a situação para debate em sala e um aluno ponderou que “o povo estava certo”.
Aduziu que “a segurança estava ruim e que as pessoas podiam fazer o que
quisessem”. Face às manifestações dele, também deixei uma pergunta à
queima-roupa: “o povo teria o direito de linchar e matar alguém, qualquer
pessoa, incluindo se essa pessoa fosse a mãe dele?” Não pedi, como no caso das
alunas, que ele me deixasse uma reposta.
Creio
que essas duas situações trazem graves questões para a sala de aula: nossos
alunos cresceram sob a ótica de quais valores? Será que os julgamentos carecem
de maior reflexão ou a tábua de comparação de medidas, a régua da ética, está
com problemas com o INMETRO? Qualquer uma das causas é portadora de uma preocupação
profunda.
Os
dois casos refletem apenas casos em que se acendem a luz de alerta sobre o grau
de avaliação de futuros profissionais. Lembremos que esses são os valores que
eles utilizarão para julgar, avaliar e decidir. Lembremos que, a priori, esta geração é egocêntrica e
descompromissada com tudo que não sejam eles mesmos, além de baixíssima
resiliência a fracassos.
Os
professores necessitam, entre tantas outras questões, auxiliarem na detecção
dessas realidades. Afinal, seus filhos e/ou netos são, ou serão, julgados, por
profissionais dessa geração. O futuro se avizinha como uma perspectiva de
necessidades individuais dentro das coletividades. É preciso agir para que
todos sejam felizes para que cada um seja feliz.
Escrito por: Professor e Educador
Luiz Augusto ( prof.luau@gmail.com )