Parece-nos que a palavra de ordem, na vida de alguém que se propõe a trabalhar com Educação, deve ser, antes de algumas outras: sensibilidade. Parece ser o “mote” para superar as dificuldades; alcançar metas, e objetivos; e estar em condições de recorrer a tudo que possa contribuir, positivamente, para a formação de um, ou mais indivíduos. O educador sensível (perdoem-me a redundância!) é capaz de “filtrar” os vários “ruídos” que poderão vir a interferir na formação integral de quem quer que seja. E essa sensibilidade se revela, indo além, nos recursos didático-pedagógicos, aos quais é capaz de recorrer, e da cultura geral, para fazer a diferença.
No que concerne à questão das competências, é importante que estejamos inteirados do que entendemos, conceitualmente, por este termo. E isso assume relevância quando é possível pensar em um conceito que possa levar educadores, gestores, e pessoas que pensam políticas públicas, em termos de ensino, a sobreporem a experiência prática do professor-educador, numa relação direta com os alunos, em detrimento de um embasamento teórico de relevo.
Outro conceito que precisa ser estudado, e, amplamente, discutido, é da globalização. Por quê? Por que ele está, direta, e intrinsecamente, ligado às formações de políticas educacionais, cujos currículos que têm por base a questão das competências, são formados com base nesse conceito, e atendem, inequivocamente, aos interesses econômicos de Estados, e empresas que determinam os rumos de boa parte do mundo. No mais das vezes, os discursos são uma “colcha de retalhos” que tentam recontextualizar o que foi desconstruído, em outras sociedades, e que podem vir a servir a determinados interesses, em sociedades que não viveram, tais revoluções, ainda.
E é aqui que o currículo assume importância ímpar. Ele é, em última instância, o documento que refletirá o conjunto de conhecimentos, ideias, princípios, filosofias, e teorias que formarão o perfil desejado de cidadãos-profissionais, pensados, e planejados, por instituições privadas e governamentais de boa parte do mundo “civilizado”. De certa forma é como se estivéssemos relendo a obra Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Nesse livro, Huxley, ficcionalmente, e não menos real, por isso, fala de uma sociedade onde as pessoas são planejadas, em laboratórios, e seus recursos físicos, e cognitivos, também. Se o sistema precisa de trabalhadores braçais, os laboratórios produzirão seres humanos com massa cefálica suficiente, apenas, para processar o necessário à execução de tarefas pesadas, e mecânicas, essencialmente. Se o sistema deseja mais professores, ou cientistas, os laboratórios produzirão, in vitro, pessoas com maior capacidade de raciocínio. E assim por diante.
Em linhas gerais, as sociedades, e seus sistemas, são planejados, em maior, ou menor escala. É uma ditadura sutil, subjetiva, e marcadamente, simbólica. Mas, pode ser bem explícita quando encontramos professores, e gestores educacionais, bem como gestores, em termos amplos que entendem, e desenvolvem, “ações educacionais” de maneira autocrática. No filme A voz do coração, a figura do diretor, simboliza o que acontece no mundo real, em larga escala. A ponto de assistirmos, escandalizados, Planos de Cargo, Carreira, e Salários, pensados, elaborados, e aprovados segundo a lógica das instâncias de governo. E quando há uma discussão que inclui a categoria dos professores, ela é conduzida pelos representantes do Executivo Municipal.
O educador ainda carece de uma consciência que o faça perceber a suprema necessidade de refletir sobre a obrigatoriedade de manter-se, permanentemente, em formação, e de que esse processo ocorre, prioritariamente, na escola, em sentido amplo; mas, no mundo que o cerca, como um todo; e é fundamental perceber o professor ao longo de toda a sua vida. O professor experiencia várias fases, e contextos, e precisa ser visto, e considerado, levando-se esses períodos, em conta.
Como fazer com que sejamos capazes de oferecer aos nossos alunos uma formação integral, quando nós não a tivemos? O ditado popular diz que não se pode dar o que não se tem. Nada mais sábio, num certo sentido. Num outro sentido, sabemos que é possível conseguirmos o que não tivemos, em um momento futuro. E é com base nisso que devemos procurar interferir nas reuniões de conselhos, e tantas outras mais, no sentido de fazermos a comunidade escolar, e o sistema educacional, mais além, verem que a formação “sólida” de um aluno passa por bem mais do que o currículo obrigatório. Várias outras formações (dança, teatro, música, escrita, artes plásticas etc), contribuem, decisivamente, para a “construção” de um ser humano mais equilibrado, mais crítico, mais capacitado para compor uma sociedade, cada vez mais, humana.
Escrito por: Eng. Agrônomo e aluno de Letras Armistrong de Araújo Souto
Escrito por: Eng. Agrônomo e aluno de Letras Armistrong de Araújo Souto