A legislação do Ministério da Educação atualmente permite às Instituições de Ensino Superior (IES) adotarem, em até 20% da carga horária de seus currículos de cursos, a modalidade de ensino a distância (EAD), o que motivou muitas IES a adotarem essa prática mas com algumas dificuldades que abordarei adiante.
O universo de estudantes do ensino superior é bastante heterogêneo (faixas etárias, nível de conhecimento, habilidade em uso de novas tecnologias, etc), o que torna por si só um elemento bastante dificultador para as práticas docentes de uma maneira geral. Observo que a reação negativa dos alunos de faculdades quanto ao aprendizado de disciplinas por meio do EAD é bastante contundente – aqui cabe fazer algumas considerações que envolvem toda a estrutura do ensino (aluno, instituição, professores, suporte técnico).
Com relação ao aluno, o EAD é mais exigente e disciplinador. Isso porque devem ser adotadas rotinas na busca do conhecimento ofertado nos diversos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), sob pena de não acompanharem a exposição dos assuntos previstos pelas disciplinas que são trabalhadas nesse modelo. Na minha opinião, essa é a maior resistência dos alunos, seguida da falta de conhecimento das funcionalidades dos AVA e da pouca habilidade em trabalharem com tecnologias, dentro desse universo heterogêneo de alunos.
As IES, por sua vez, não adotam critérios mais rigorosos na seleção, em cada curso, de quais disciplinas seriam mais adaptadas ao modelo EAD e assim possibilitarem minimizar o “trauma” dos alunos durante suas práticas ao longo do semestre letivo. Aliado a isto, outros fatores contribuem negativamente como: falta de preparação do material didático de forma adequada; não capacitação dos professores e tutores no uso de tecnologias que suportam a EAD como fóruns, listas de discussões, vídeo e áudio aulas, avaliações “on-line”, e outras; falta de maior amigabilidade e facilidade de navegação desses ambientes que facilitem a interação professor-aluno-instituição.
Observo que gradualmente a educação (em todos os níveis) vem passando por uma transição de eminentemente presencial para aprendizado a distância. Isto, a meu ver, ainda levará alguns anos, onde a chamada “geração Z” está incluída no contexto de uso de Tecnologias da Informação (TI) e são bem mais aderentes ao modelo EAD, pois aprendem, ao longo da vida, que seu uso ocorre de uma maneira bastante transparente e natural – eventualmente tais alunos ao ingressarem no ensino superior não encararão o EAD de forma reativa mas como um processo natural de ensino-aprendizagem, o que não ocorre com o universo de alunos atualmente.
Se fosse realizada uma pesquisa (acho que merecia esse estudo) entre os alunos de nível superior que atualmente estão matriculados em IES em cursos de graduação, seria bem provável observar que uma boa porcentagem deles buscam uma segunda graduação e arrisco a dizer que, atualmente, aqueles que não se enquadram nesta característica possuem uma grande probabilidade de insucesso em sua conclusão.
Vejo com bons olhos o EAD, pois possibilita ao discente administrar melhor seus momentos de aprendizagem, muito embora diferentemente do que se possa imaginar, não é tão vantajoso financeiramente se comparado ao ensino presencial. Mas é preciso considerar aspectos, como os aqui indicados, para que o EAD não se transforme meramente em instrumento econômico adotados pelas IES, mas revestir esse modelo de forma a proporcionar qualidade no ensino prestado, particularmente quando se trata de formação de futuros profissionais para o mercado de trabalho.
Existem vários outros pontos que merecem destaque sobre este assunto, mas me furtarei de abordar para não me delongar mais.
Escrito por: Prof. José Gladistone