Existe em curso uma discussão instigante sobre as metodologias que devem ser utilizadas para um efetivo processo ensino-aprendizagem no Ensino Superior devido à pandemia do COVID-19, buscando evitar-se particularmente a evasão escolar. Neste contexto, o mundo acadêmio viu então emergir um incontável número de soluções para resolver a questão do distanciamento social, então imposto pelos protocolos de saúde elaborados pelas autoridades públicas.
Há naturalmente de se reconhecer a grande contribuição que especialistas estão ofertando à sociedade em um momento tão difícil e, até certo ponto, aterrorizante. Tudo que desconhecemos, certamente tememos (e muito). Todavia, em meio a esse novo modus operandi, gostaria que me permitisse compartilhar uma preocupação que sempre acompanhou-me em meus muitos anos de docência: a infantilização metodológica do Ensino Superior. Meu objetivo neste texto não é julgar metodologias, mas apenas alertar para a necessidade de uma criteriosa análise antes da adoção de uma solução.
Nesse sentido, tomemos como base a definição de Ensino Superior da Wikipédia, que para o efeito pretendido é suficiente e de ponto pacífico: "O ensino superior, educação superior ou ensino terciário é o nível mais elevado dos sistemas educativos, referindo-se normalmente a uma educação realizada em universidades, faculdades, institutos politécnicos, escolas superiores ou outras instituições que conferem graus acadêmicos ou diplomas profissionais."
Creio ser bem razoável supor então que as fases anteriores (Ensino Fundamental e Ensino Médio) foram devidamente cumpridas e que os egressos gozam perfeitamente das capacidades e habilidades lá ensinadas. A expectativa decorrente é que no Ensino Superior os discentes sejam então mais capazes de desenvolver novos cohecimentos de forma independente, autônoma e responsável, observando especialmente os seguintes três domínios cognitivos: Analisar, Avaliar e Criar.
A discordância do anterior simplesmente nos levaria a uma discussão interminável sobre direitos e deveres do cidadão, bem como do papel do Estado em todo esse processo. Furtarei-me propositalmente de enveredar por esse caminho, atendo-me apenas à reprodução de três pequenos trechos de artigos publicados sobre essa infantilização, já observada bem antes da pandemia e que pode vir a ser agravada, caso não seja devidamente lembrada.
Trecho 1:
"Nas universidades ou politécnicos, a responsabilidade de motivar não deve caber ao professor. A tese é defendida por Carlos Fiolhais, físico, docente e divulgador de ciência. Afirma que, por oposição ao ensino básico ou secundário, onde “os alunos têm que ser dirigidos”, a frequência no ensino superior significa autonomia." (Camilo Soldado, 25 de outubro de 2015).
Trecho 2:
"Espero que na Universidade pública não cheguemos ao ponto de propor uma reunião de pais. Pelo andar da carruagem, no entanto, já não seria de se espantar. Como antídoto, poderíamos levar estudantes e nós mesmos um pouco mais a sério, tratando-os e tratando-nos como adultos, não apenas aptos a reproduzir uma opinião sobre algo (ou sobre “tudo”), mas formados para enfrentar o conhecimento e as problemáticas sociais com disciplina, esforço analítico e capacidade reflexiva. Não é tão complicado, basta que a Universidade aposte naquilo que é seu papel, que não é o de vender entretenimento, nem de agradar a clientes. Para isso é preciso renunciar à sedução gozosa da infantilização. Mas é que talvez isso não seja tão fácil. (Alexandre Fernadez Vaz, 27 de março de 2015)".
Trecho 3:
"O Jornal Folha de São Paulo do último domingo, dia 22 de março, torna alarmante o que nós, professores universitários, já sabíamos e temíamos. Cresce o número de alunos cada vez menos autônomos nas universidades públicas e privadas. Não bastassem controlarem os boletins e notas dos filhos pelos sites de internet disponibilizados nos portais das faculdades, os pais agora querem reuniões frequentes com os professores e diretores, ademais de darem palpites nos programas acadêmicos e acompanharem os filhos nos processos de adaptação ao novo ambiente universitário. (Maristela Basso, 24 de março de 2015)."
Se for possível, peço que você leia os artigos acima na íntegra para formar sua opinião, e termino este texto deixando-o com os seus pensamentos. Ressalto que não tenho a intenção de convencimento, mas apenas contribuir sobre um tema que julgo ser tão importante: como melhor escolher/aprimorar as metodologiass aplicáveis no Ensino Superior agora (durante a pandemia) e, naturalmente, no período pós-pandemia.
Um grande abraço e fiquem com Deus.
Carlo Kleber da Silva Rodrigues (carlokleber@gmail.com)